segunda-feira, 3 de setembro de 2007
Conversando no divã
Para que diabos procuramos nos tratar numa sala de terapia? É essa a pergunta que me faço, eu que sou adepta de uma dessas salas. Para que diabos se procura um psicólogo? Para que diabos temos depressão? Os palavrões todos são formas de desabafo, como se agora eu estivesse numa dessas salas, o psicólogo à minha frente, eu em frente ao psicólogo, com todas as minhas dores. O que diabo ele irá fazer com a minha dor? Passar remédio ele não vai, pois quem passa é o psiquiatra. O psiquiatra trata da depressão em sua forma cerebral, diria assim, remédios para a famosa serotonina, etc.; enquanto que o psicólogo trata da depressão com perguntas mais auspiciosas, profundamente existencialistas, filosóficas, coisas que possam encontrar a alma do paciente, sua gênese familiar, a criança que está lá entalada querendo brincar de qualquer jeito... Os psicólogos estudam muito, lêem Freud, Lacan, Jung, têm até autoridade para negar as posições de cada um desses famosos e ter a sua própria posição. Aliás, eles tem tudo nas mãos: um ser. O que fazer com um ser? Ouvir o seu choro convulsivo? Arrumar-lhe um lencinho branco de papel? Dizer-lhe palavras auspiciosas? Meu Deus, o que fazer... Pronto, já sei: o bom psicólogo encontra a alma de seu cliente, sabe sua história, lhe diz o que deve fazer, o que não deve, sugere caminhos... Há no seu olhar algo humano, percebe-se. Em alguns casos ele simpatiza com sua história, tem uma devida compaixão. Mas ele não pode fazer mais nada. Não pode lhe dar um abraço. Não pode lhe transmitir afeto. Às vezes o afeto se dissemina no olhar, mas ele retrai. Porque não pode. Porque isso conseqüentemente se transformará em contra-transferência. Porque o que acontece ali é uma relação profissional: há um doente e há um médico. Só que o doente é doente da alma e o médico também é da alma. Eis a encruzilhada. A alma exige não-profissionalismo, a alma implora afeto, abraço, cumplicidade com seu destino. Por isso me pergunto, de novo, e me perguntarei a vida inteira: para que diabos procuro um psicólogo?
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5 comentários:
Eu procurei uma dessas salas por quase 10 anos. Acho que eu não buscava abraço, nem afeto. Queria apenas falar, falar e falar. Livremente, sem me sentir a pior das mortais. Era a horinha da semana em que eu não me sentia julgada por fazer escolhas ou pensar diferente do resto do mundo.
Beijos, Nauta.
Nunca fui ao psicólogo. Mas confesso que sinto vontade e curiosidade. Porém, também acho que ninguém que mal me conhece poderia me ajudar a resolver meus problemas. Então também me pergunto: pra que existem psicólogos?
Beijoss
Faço análise há dez anos. Mas precisei criar um blog. Talvez porque minha analista não fale muito. Talvez porque, às vezes, apenas preciso de palavras. Acredito que elas mudam o mundo.
Estava com saudade!
Bjs,
Renata
nunca fui ao psicólogo. mas acho que quem vai deve estar à procura de alguma ordem em si mesmo, alguma coerência nas contradições da vida, quem sabe... não sei.
Gostei de visitar este blog.
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