quarta-feira, 30 de julho de 2008

Minha Santa Cecília



Minha Santa Cecília,
povoai o crânio de quem amanhece
com a alma escapada da poesia!
Dai-me, Santa Cecília,
teu cajado emprestado
e eu vou pastorear minhas nuvens
levando-as para bem longe...
Ah, minha Santa Cecília,
Desce de onde estás e aquece
esses versos sem paradeiro certo
esses versos de sons quebrados
esses versos feios e mal-feitos
Adornai, minha Santa
a alma de plantas e palavras
e quando eu acordar bem cedo
soprai para mim duas vezes
o mais leve segredo

das boas maldades

De novo aqui empurrando quefazeres. Pois humor é rio pantanoso, e todo dia acordo afogada em plantas aquáticas. Não é chororô não. Aliás, é chororô sim, porque tenho direito de continuar chorando. Não sou adepta do otimismo, e quem me conhece sabe disso: que quando criança lasquei os cantos da boca de tanto chorar. Então, deixem eu lascar os cantos da boca de novo. Que é bom como dar uma boa gargalhada. E me lembro repentinamente da história de um primo matuto que foi nos visitar. E vendo grudada no alto da parede a lata de cera (de encerar casa) sonhou alto. E pediu "tia Té, me dá um pedaço daquela goiabada?" Mãe riu e explicou didaticamente que aquilo não se tratava de goiabada, etc. "Ah, era pra dar!", exclamou minha irmã. Realmente, é verdade. Minha irmã estava certa: era pra dar mesmo um pedaço de cera pra ele.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

No ar

Ih, gente, infelizmente não sou da terra. Não vale a pena me conhecer. Sou completamente invisível, me escondo no meio das letras dos livros. Tenho colóquios difíceis com os anjos, eles não me aceitam por lá; por cá, os ares são densos. Onde deverei ficar? Onde? Sempre embaixo daquela nuvem, aquela onde eu me escondi anos atrás, escoltada por ventos.

domingo, 27 de julho de 2008

Cantar

Agora crio a coragem de contar pra vocês um segredo: gostaria de ter sido cantora. Quando menina sonhava, com gulodice, em praticar todas as artes, até a tocar piano! Só havia dois pianos na cidade: o de dona Alba e aquele que eu guardava na minha cabeça. Depois fui ficando mais modesta, querendo tocar violão. Este talvez fosse mais fácil, o difícil foi conseguir aprender a tocar uma música inteirinha na primeira aula (ah, essa minha fatalidade!). Desisti. Mas o sonho de ser cantora continuou como uma ferida que não dói. E nas muitas noites em que sonho soltando a garganta em grandes estádios (minha irmã, irônica, interpreta esses sonhos afirmando que eu seria sim uma cantora, mas uma cantora gospel), nessas noites realizo a misteriosa catarse. Sei que deve ser uma coisa de outras dimensões de realidade: no palco, quem é feio fica bonito, pois que a alma aflora para que todos a vejam. E a alma - seja de quem for - é sempre bela, imponente, encantadora. E é no palco, cantando, que ela se deixa ver em seus mistérios e contato com os anjos.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Verde

Quando completei quatorze anos mãe fez uma festa verde pra mim. Até hoje busco a simbologia disso e não encontro; aliás, nunca entendi aquela festa. Primeiro porque lá em casa não festejávamos aniversário. Segundo porque eu esperava que festejassem os quinze e não os quatorze. Talvez pelo fato de naquele mesmo mês minha irmã ter completado quinze anos e comemorado. Sendo assim, era, por bem, festejar o aniversário da irmã mais nova.
Ah, que aniversário! Tudo começou com a roupa que eu iria vestir. Risquei no papel o modelo e mãe se prontificou a comprar o tecido e a costurá-lo. Só que ela comprou um pano verde e costurou tudo no grau aumentativo: a saia do vestido que desenhei era rodada, mas não tanto quanto aquela já pronta; as mangas que desenhei eram pequenas, discretas e não aquelas enormes e bufantes; o laço de fita seria fino, sutil, e não aquela fitona grossa reluzente. E tudo isso verde, verdíssimo. Para completar, sapato verde. E um bolo de aniversário verde.
Não sei que tal obsessão significava. Só sei da algazarra: meus colegas rindo de mim com as bocas cheias de docinhos verdes.
Desde aquela festa descobri que o gosto de rir de si mesma não é tão azedo. Pode ser doce como aquele bolo de aniversário.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Falta de inspiração

A pior coisa para a pessoa que escreve, ops!, para a pessoa que vive, é a tal falta de inspiração. Bandeira dizia que até para atravessar a rua é preciso inspiração. Estava certíssimo. Sem inspiração o bom é ficar dentro de casa, trancada no quarto esperando a morte chegar. Melhor do que sair e ser atropelado.
Hoje estou vivendo um dia desses. Fiquei trancada no quarto e, quando a morte já vinha, dei um pulo da cama e fui na rua comprar chocolate. Comprei um tablete enorme e comi vorazmente. A serotonina entrou bem, pois já estou com vontades até de fazer faxina em casa. E voltar para a yoga. Enquanto isso a pia de prato sujo me olha de soslaio, como se dissesse: "e eu?" Espere, garota, que já estou indo. Ai gente, cá pra nós, se viver é isso, ter de se balançar de um lado para outro fazendo coisas, é mesmo um negócio chato demais. O pior é que ficar deitada também o tempo todo não dá: o tédio nos degola. O que fazer então?
Com a falta de inspiração os livros me olham da estante e têm pena de mim.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Do último andar

Imitando Cecília, vou procurar o último andar para morar. De lá construirei armadilhas para as nuvens... não deixarei elas brincarem de se desfazer. De lá gritarei teu nome, como só uma louca pode gritar. De lá serei Ismália... De lá, do último andar...

O último andar
Cecília Meireles

No último andar é mais bonito:
do último andar se vê o mar.
É lá que eu quero morar.

O último andar é muito longe:
Custa-se muito a chegar.
Mas é lá que eu quero morar.

Todo o céu fica a noite inteira
sobre o último andar.
É lá que eu quero morar.

Quando faz lua, no terraço
fica todo luar.
É lá que eu quero morar.

Os passarinhos lá se escondem
para ninguém os maltratar:
no último andar.

De lá se avista o mundo inteiro:
tudo parece perto, no ar.
É lá que eu quero morar:

no último andar.

Dos males do mundo

Do amor só escuto frases mal-acabadas.
E vejo dores expostas.
Sinto as minhas, todas elas não cicatrizadas, doendo quando o sol bate. E, todos os dias, o Dia faz questão de trazer o Sol, para doer mais na minha carne.
Quem é o culpado? O Sol, o Dia? Tu, Senhor Invisível, poeta que reina no abrigo de nossas mais cruéis invenções?
Quem, quem é mesmo o culpado?
... Enquanto meu corpo só queria deitar-se junto ao teu
numa eternidade adivinhada.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Saudades

17 de julho. Se ele estivesse aqui, seu cabelo deveria estar quase todo branco. Como se encontraria o seu rosto? E suas mãos? Lembro exatamente das unhas compridas, das mãos suadas, de um talco que ele usava nos pés. Lembro com nitidez das sandálias havaianas amarelas, sempre embaixo da cadeira da sala de jantar, esperando a sua volta às seis horas da tarde. De suas camisas penduradas no cabide do quarto. Sinto o cheiro delas ainda hoje. E o formato de seu corpo na cama? Gostava imensamente de tirar uma sonequinha à tarde, ouvindo o querido rádio de pilha. Ao acordar, ia direto pra cozinha tomar café. Depois saía para a rua, para o trabalho, ou para a prosa com seus amigos na praça. Era o "gasguito", como mãe o chamava, com ironia. Era meu pai, ali na praça, vivendo.
O que ele estaria fazendo hoje? Procurando mais uma vez sua agenda? Vestindo a camisa bonita que compramos? Lendo os cartões de aniversário?
Certamente estaria ratificando, em todos os minutos do dia, sua idade: 71 anos. Idade que agora se dilui nos 56, eternos cinqüenta e seis... desde aquele junho.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Fusquinha das cores

Uma coisa que me fascina em Trem das Cores de Caetano Veloso é aquele verso "e a seda azul do papel que envolve a maçã". No meio da viagem de trem ele consegue enxergar uma coisa que só Francis Ponge conseguiria; sutil demais. Por isso levo essa canção para minhas aulas, a fim de que os alunos comecem a estudar literatura não através de conceitos, mas de vivências com os sentidos, com o jogo sensorial que a arte nos proporciona.
Estava na sala de aula em pleno deleite com essa música quando me veio à lembrança uma outra viagem. Aliás, outras viagens. Aquelas que fazíamos em família. Mãe e pai no banco da frente do fusquinha marrom, e eu e minha irmã no banco de trás. Brincávamos de dividir as coisas que víamos das janelas do carro: o que eu via do meu lado era meu e o que ela via do lado que estava, era dela. O pior é que a sortuda tinha tudo do melhor: matas verdíssimas, fazendas maravilhosas, riachos lindos, vacas gordas... Enquanto que no meu lado se repetia as mesmas pobrezas: jegue magro, ranchos de palha, meninos nus e melequentos, tristezas, etc. Essas viagens não variavam: habitualmente íamos para os mesmos lugares. Assim, o que víamos e tínhamos também. O segredo, portanto, do sucesso de minha irmã era óbvio, pois ela não abria mão de ficar sentada no banco atrás do motorista...
Foi a partir desse tempo que comecei a notar que estar perto de pai trazia algumas certezas; uma delas era a recorrência em ver e ter lindas paisagens.

*Esse texto tenta homenagear os dois filhotes de Marcus, em viagem, lá no blogue Licuri.(http://licuri.wordpress.com/ Post: "Minuto de paz")

terça-feira, 15 de julho de 2008

Minha mais terrível humilhação:

cheirar bolacha creme cracker quando fazia dieta.

Girando...

O que nos leva a acreditar que existimos? Os nossos cinco sentidos muito mal utilizados? Até hoje desacredito que existo. Não consigo muito prestar atenção aos sentidos, estou sempre em outro lugar. Quando entrei na escola, aos seis anos, era assim. Eu nunca estava ali, chorava porque na verdade eu estava em casa, ao lado de minha mãe. E naquele lugar ela desaparecia.
Nunca me senti de corpo inteiro no que chamam de realidade. E quando tento saio logo, desesperadamente. Vou buscar outro mundo, salto o muro, transgressora sem rumo, em busca de alguma coisa que nem sei o que é. Talvez o lirismo, talvez uma certa lua de minha infância que clareava as danças de roda de um tempo que não se esgota... Gira, gira, gira, para sempre. E eu vou girando, girando até cair no chão, atônita ao ver que a existência é sempre outra, que eu não sou eu, sou talvez um pouco que restou de "Titia", louca municipal que se enfeitava com roupas de plástico e colares de canudos.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O mundo das nuvens

Vivo uma vida puramente imaginária. O vento gritando lá fora é muito mais vivo de que eu. Entrei nesse mundo da fabulação aos seis anos. Mentia por tudo e por nada, adorava inventar coisas. Até que pai e mãe resolveram tomar uma providência: me colocaram no catecismo. Lá aprendi que quem mente fica aleijado, e outras atrocidades. Papai Noel também fez das suas: mandou uma carta ameaçando não me dar presentes no Natal, caso continuasse mentirosa. Fiquei carola por um tempo, mas dentro de mim a mentira sempre imperou, forte, me levando para o mundo das nuvens, o mundo onde se pode viver de ausências, de ilusões, de frases suspeitas.

um sonho

Escrever ouvindo Piaf dá a sensação de uma dolorosa e bela lembrança saindo da pele. Os olhos se enchem de água, e eu me lembro do filho que tive num sonho de ontem à noite. Ele veio em brumas e se agarrou em mim com um amor completamente impossível, como todos os amores que eu já tive. Ele não queria ir embora, não queria os pais verdadeiros, queria a mim, mãe que encontrou nas nuvens oníricas de uma madrugada fria. Mãe que não poderia ser sua mãe. Ah, meu Deus, por que me dás sempre as coisas que não posso ter? Todos sabem que nunca quis ser mãe, e de repente me encontro com um filho impossível. Oh, Piaf, só tu embalas agora essa maternidade vazia.

domingo, 13 de julho de 2008

Engano

Não decoro número nenhum. Na minha cabeça não entram números. Mal sei o número de meu telefone, e, às vezes, quando pedem, me esqueço. Com os números tenho uma relação bastante peculiar, pois pessoas também são números, e quando chego de viagem quero, claro, saber quem me ligou. Não sou modernosa, não tenho celular, mas tenho o bina. Só para saber quem foi que me chamou na minha ausência. Quando chego da rua vou direto olhar. E como não decoro nenhum telefone, saio ligando para aqueles números ali, às cegas, sem nunca saber quem são. Hoje fiz isso. E não consegui encontrar ninguém. Não sei de quem são aqueles números, muito menos tenho disposição para olhar na minha agenda. Por isso o mistério se instala, mistério que talvez nunca será revelado. Ligo, para retornar, e do outro lado o telefone repete a mesma mudez que encontrou na minha casa. E fica o número como rastro. Quem será que me procurou? O que queria falar comigo? Nas vezes em que consegui um retorno, a pessoa do outro lado era o próprio mistério, e um mistério irritado. Eu disse, como digo sempre: "Alguém desse número ligou pra minha casa. Quem mora aí?" Do outro lado, uma voz impaciente respondeu: "Não sei minha filha", e desligou. E o mistério persistiu.
Hoje, desde que cheguei de viagem, ligo para um número bonito instalado no telefone. Não me atende. Insisto. Não me atende. Insisto novamente. De novo a mudez. Preciso perseguir esse número e encontrar o dono dele. O que ele terá para me dizer? Que foi um engano?

domingo, 6 de julho de 2008

A poética da memória


Eis aí, Herberto, o cine sempre-viva que restou de tua infância. A praça 11 que virou um simulacro de tua memória. Quase nada restou de teu tempo, mas o sol vai alto, e te espreita atrás das serras e das árvores; tão verde a nossa terra, maravilhada com tua presença num dia comum, quarta-feira de julho. Nós dois andaremos sempre juntos por esse calçamento cabeça-de-negro, de mãos dadas, assim como Marcelo e Lorena em Rio dos Morcegos. Ah, "a memória era qual uma mão que tivesse aberto uma porta", disse Marcelo-Herberto, digo eu. Por sorte abro a janela agora, e não só a porta.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Aeronauta, a escrevente

Fui uma escrevente de cartório... que trazia dentro da gaveta, escondidos, duas coisas: um livro de literatura e uma caixa de chocolates. Sempre as roubadinhas me fascinaram. E bem nas fuças do escrivão... Mas eu não era doida de oferecer chocolate pra ele, muito menos de dar a oportunidade de ser lembrada que ali não era lugar pra ler literatura. Fazia tudo escondido, que é mil vezes melhor. Vivia em estado de pura tensão e excitação, todos os dias. Essa felicidade clandestina me ajudava a suportar as tristes tardes sonorizadas por um ventiladorzão besouro que espalhava todos os processos no chão. E a labuta com esses serezinhos horrorosos que são os chatíssimos processos? Tudo foi compensado pelo desejo intenso de uma vida em constante perigo. Enquanto suportava a tortura, que era bater mandados e cartas precatórias na máquina, dava uma roubadinha na gaveta: o livro e a caixa de chocolates viviam abertos. Ainda bem que escrevente não é gente, nem para o escrivão nem para aqueles que procuram os cartórios. Muito menos para os juízes. Porque senão teriam visto tudo. Eu era destrambelhadamente criminosa: certa vez ao abrir a gaveta, chocolates caíram no chão. Ninguém viu. Outra feita me esqueci que estava trabalhando num cartório e peguei meu livro, coloquei-o na mesa e comecei a ler, tranqüilamente. O escrivão nem olhou. Mas eu não poderia arriscar sempre. Um dia ele iria perceber, e o flagrante não seria nada agradável. Melhor era manter aquele romance escondido, aproveitando bem o invisível de minha presença naquele mundo de cadeiras giratórias e homens de paletó.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Alumbramento

Gosto de ficar em casa: eu e meus livros. Nós nos entendemos tão bem que através deles consigo maravilhar-me com a vida. Eu e meus livros. Eles têm vestígios meus, vestígios de minha alma infantil, quando eu morava no interior e os comprava pelo reembolso postal. Nesse tempo aguardava o correio com impaciência e outro sentimento que nunca consegui definir bem. "Salvo", o carteiro, chegava na janela gritando com estardalhaço "carta, carta, carta!" E quando eu via nas suas mãos um papel branco, aviso de chegada de alguma coisa, meu coração pulava. Ia correndo buscar o dinheiro nas mãos de pai para, finalmente, ter meus livros em casa. Em casa. Agasalho, esconderijo, toca. É, nunca tive vergonha de dizer que eu era uma menina "entocada", que vivia na toca mesmo, por vontade máxima. Vontade de viver um amor exclusivo, no qual o entrar e sair de almas pelas páginas dos livros me preenchiam de algo que o mundo nunca me deu.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Amor

É, sou do tempo dos cadernos de confidências. Tive vários. Sempre começavam com as mesmas perguntas: "Vamos confidenciar? Topas?" Depois seguiam as perguntinhas básicas: "Amas?" "Como é o seu amor?" E no final: "O que você acha da dona do caderno?"

Havia aqueles mais audaciosos... iam bem longe: "Amas? Qual é o NOME de seu amor?" Nesses só respondia quem era corajoso. Quem não tinha medo de dizer "abertamente" o grande nome, "o nome que nos estremece", como tão lindamente escreveu Cecília Meireles num poema.

... Mas não é que uma vez fui corajosa?
Soube que uma amiga tinha um desses cadernos ousados. E eu queria porque queria contar a todo mundo quem eu amava. Doidice de uma menina sonhadora, de doze anos, que já tinha feito tudo a fim de conquistar o menino de sua vida e não conseguiu. E que então resolveu apelar para o extremo. (Sempre tive esse gosto pela fatalidade quando a vida me nega as coisas.) Busquei o tal caderno e lá escrevi o nome do meu amor. O que aconteceu depois foi um burburinho, o colégio todo comentando a façanha... e vinda de mim, uma menina tão quietinha... Algo pra se espantar mesmo.
O que eu imaginava era que, com isso, ele iria tomar uma decisão. A pressão do povo ajudaria... Arquitetei, como quem já faz politicagem no amor.
De fato, as pessoas pressionaram muito. Tanto falaram que ele resolveu responder às perguntas do caderno. Fui correndo ler. Trêmula, passei todas as folhas e me direcionei rápido à pergunta que mais interessava. Vi lá a resposta. Ah, a resposta...

Acordando...

A vida não dá o que a gente quer, e isso é motivo para briga. Fosse a vida uma pessoa, eu já havia arrancado os cabelos dela. Já havia unhado ela bastante. Puxa, vida, por que você gosta de ser do contra? Me diga, cafetina desvairada, cínica, sonsa, tirada a besta? Ah, "lá na frente vou entender"? Que nada, que filosofia canhestra, não caio mais nessa não. Eu quero é desbancar você, tirar você do eixo, lhe dar um bofetão, ter o que é meu de direito. E não quero um pedaço de bolo não, quero um bolo inteiro.