sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

saudades da Bahia

A verdade mesmo, sem esconderijos, é que tenho saudades de Salvador. De acordar pela manhã e ver um sol limpo, sem disfarces. Sentir a brisa do mar entrando pelas cobertas, mesmo morando não tão perto do mar. O mar é mágico, ele entra em casa e transforma tudo em cor azul, soberano e iluminado. E depois tem a livraria cultura, a livraria saraiva, tem aquelas ruas arborizadas do corredor da vitória, tem o cinema do museu, tanta coisa! Lá a gente consegue viver só, pois que tem a cidade toda a nossa favor, do nosso lado, sussurrando prosa boa, nos animando com a força lúdica da vida.

sábado, 22 de dezembro de 2012

de todas as lembranças

Como não lembrar do presépio lá de casa? Impossível não lembrar. Era todo feito de pedra, que mãe guardava ano após ano, dentro de uma caixa. Pedras do rio, grandes e pequenas, com as quais ela fazia uma gruta no canto da sala. Feita a gruta, lá vinha a areia do rio, novinha, catada naquele ano, sempre pura. E com a areia o cheiro de rio ficava forte, cheiro de vento, cheiro de mato, tudo ali, pertinho de nós, no canto da sala de visitas. O presépio era armado no início de dezembro, mas Jesus Menino só era acolhido na sua manjedoura à meia noite do dia 24 para 25. Com a casa toda dormindo, mãe ia lá, pé ante pé, e fazia Jesus nascer (creio que era nessa hora também que ela virava mamãe noel e colocava na nossa cama o tão sonhado presente!). Como esquecer os personagens que compunham o presépio? Além dos três reis magos, de Nossa Senhora e São José, no meio das pedras ia muita gente, ah se ia... Ia um boneco em feitio de menino, nuzinho em pelo, chupando o dedo; ia uma boneca morena e uma loura; até mesas e cadeiras de brinquedo faziam o percurso de ida à gruta; todos indo, indo ver Jesus: bolas pequenas, bichos de plástico, jarros, panelas, tudo que se imaginar. Depois do dia 25 faziam o caminho de volta: mãe colocava esses personagens todos dando marcha à ré, ou seja, voltando de dentro da gruta. Que animação aquele mundo! Adorávamos tanto aquilo tudo! Hoje entendo por que nos acabamos de chorar quando alguém entrou lá em casa e, sorrateiramente, roubou o boneco em feitio de menino nu, chupando o dedo... Ele já estava voltando da gruta, já tinha visitado Jesus... quando o levaram para sempre.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

sobre o fim

Eu era menina de seis anos, e ao sair na porta vi um monte de gente olhando para o céu; uns usavam espelhos para ver melhor. Havia um clima de fim de mundo; eu, como sempre fui medrosa, só esperava o pipoco. Sempre acho que tudo que acaba acaba com estrondo. Isso que estou agora contando aconteceu na década de 70, e mãe corria de um lado para o outro procurando um espelho também e foi para a porta da rua. Depois, muito tempo depois, soube que aquilo se tratava de um eclipse solar. Mas para meu imaginário ali foi o primeiro anúncio de fim do mundo.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

saudade de Herberto Sales

Hoje, relendo minha dissertação de mestrado que virou livro em 2004 pela Coleção Selo Editorial Letras da Bahia, tive uma saudade imensa de Herberto Sales. Eu morava em Feira de Santana e não tinha telefone, e lhe mandei o telefone de minha casa em Andaraí. E nos finais de semanas, quando eu ia para lá, ele me ligava, sempre no meio da tarde. E me pedia, nostálgico, notícias de dona Celé. Dona Celé era minha vizinha da rua da Ilha, que fora conhecida sua de juventude. Eu respondia que dona Celé estava bem, sempre sentada na porta. Aí ele me perguntava por Petró; claro, Petró ainda está vivo, eu respondia. Havia uma saudade enorme naquele homem que deixou sua terra há tantos anos atrás; e que ali, tão longe, a partir de um telefone, me pedia notícias de pessoas conhecidas; era como se ele me perguntasse se o rio paraguaçu ainda continuava cheio e belo.