tag:blogger.com,1999:blog-21186198147792264222024-03-04T23:28:23.697-08:00aeronautaaeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.comBlogger803125tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-13821746783738696232016-01-04T13:57:00.003-08:002016-01-04T13:57:34.538-08:00RETORNANDO...<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirmof7e0VIS8Y74Y5qXCAwKaQPD905qnmkrEz9cgtUDDd3MYpWkuHX7PqXaHSZ2drjFme1udTpLlLkI0I8T7dgtsWSmsdALClQBmDV9jxGUdMqof30KPSlg_Oo0cAgEkfPMpVC2-7QvcKb/s1600/hilda.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirmof7e0VIS8Y74Y5qXCAwKaQPD905qnmkrEz9cgtUDDd3MYpWkuHX7PqXaHSZ2drjFme1udTpLlLkI0I8T7dgtsWSmsdALClQBmDV9jxGUdMqof30KPSlg_Oo0cAgEkfPMpVC2-7QvcKb/s320/hilda.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
"Dona Hilda,<br />Olha Seo Túlio<br />Na porta!"</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Dona Hilda<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />se volta.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br /></span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
Na porta,<br />Seo Túlio.</div>
<div style="margin-bottom: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Trazia os mesmos<br />olhos<br />de julho</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
mal adormecidos,<br />impuros;</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
e um soluço<br />no escuro.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
"Dona Hilda,<br />acolha seu Túlio,<br />Dona Hilda!"</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Dona Hilda,<br />dura.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Sem poemas<br />Sem presentes<br />Sem mesuras</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Dona Hilda cansada.<br />Envelhecida.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
"Seo Túlio voltou!<br />Com o amor<br />O amor!"</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
O amor?,<br />pergunta Hilda,<br />Senhora da vida.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
E tudo, enfim,<br />se transforma.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<a class="profileLink" data-hovercard="/ajax/hovercard/user.php?id=100003977542817" href="https://www.facebook.com/angela.vilma.5" style="color: #3b5998; cursor: pointer; text-decoration: none;">Ângela Vilma</a><br />*poema em homenagem a Hilda Hilst e seu eterno amor,Túlio (que era Júlio).</div>
</div>
aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-32578367503795039932015-04-16T08:01:00.003-07:002015-04-16T08:07:11.683-07:00no subsoloTodos estão no Facebook, a essa hora. Então posso escrever aqui à vontade. Posso falar o que eu quiser. Quem vai ler? Sobrou alguém no porão? Alguém poderá ouvir o meu pensamento enquanto digito? Sim, escrevo também para mandar recados. Escrevo para dar o tapa na cara que eu não dei. Escrevo para exorcizar os demônios. Escrevo para não matar de verdade. Mais ainda: escrevo para poder amar quem não posso amar. Escrevo, à maneira dos grandes enredos populares, para lavar a minha honra. Crime passional. Todos os dias quero lavar a minha honra, quero me vingar. Por isso escrevo. Por hoje é só.<br />
<br />
.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfzDqRx_eYPAjziZX-Q86inv8FPgDs6oLRCpXLqIu6IBtOTGmduRsIwUDIvb80lT3islJdlTLiLzXS3LNm7oIU6YAr8XRfYE-R2PO2HOa3m6A3UR-mDe_ifgWUAB8yR-Vn7nVFiQ5VO2cf/s1600/escrevo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfzDqRx_eYPAjziZX-Q86inv8FPgDs6oLRCpXLqIu6IBtOTGmduRsIwUDIvb80lT3islJdlTLiLzXS3LNm7oIU6YAr8XRfYE-R2PO2HOa3m6A3UR-mDe_ifgWUAB8yR-Vn7nVFiQ5VO2cf/s1600/escrevo.jpg" /></a></div>
aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-43168719948349972082014-07-04T23:37:00.003-07:002014-07-04T23:37:22.087-07:00Não consegui, sozinha, gerenciar minha casa. Já que não suporto sujeiras e não tenho ânimo para limpá-las e curto muito mais ler um livro, contratei uma nova empregada. Essa tem ligações com São Paulo; no sotaque e no jeito civilizado. Chama água sanitária de "Cândida". E conversa comigo enquanto lava os pratos, olha para trás e diz que tem um namorado em Salvador. "É, dona Ângela, eu pegava, sabe, voos noturnos e vinha de São Paulo ver meu namorado, aproveito a vida."<br />
É uma profissional, percebe-se pela discrição e talento para servir uma mesa.<br />
E parece-me que gosta muito do que faz. Cozinha bem.<br />
Só que reclamou hoje ter recebido uma empreitada daquela. Convidada para dormir com uma amiga de uma amiga, pago, claro, essa amiga da amiga quer prosa todas as noites antes de cada uma se recolher para seus respectivos quartos.<br />
- Ai dona Ângela, está complicado. Ela precisa arrumar uma dama de honra. (Diz assim com bastante calma e elegância.) Ela conversa muito, sabe? Muito solitária!!<br />
Fico me perguntando se também sou conversadeira. Acho que não. Só dou brecha para prosa na hora das refeições. Fora disso fico no escritório lendo e escrevendo. Ela nunca me interrompe. Muito decoro.<br />
Espero que tudo dê certo dessa vez.<br />
Sinto minha casa habitada. As paredes parece que conversam entre si, e os cômodos dialogam pela parede. Há algo no ar que quebra a solidão nefasta dos últimos tempos.aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-12470352106047663292014-07-04T23:15:00.002-07:002014-07-04T23:20:42.912-07:00Leide<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtcrZKh29gdI-eOUR7u4ay7xAoE1xbBKdhCCFgVVaih2y3t7rFWZ_qLyvkYuhdMXgrHv5wy3wu6kk6vRxww5yHV7DqRbd1KQzKWO_b7tgjviMM2DoBeKIKfXH6WSkAX26_MiGTTX9LDuxj/s1600/mulher+solit%C3%A1ria.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtcrZKh29gdI-eOUR7u4ay7xAoE1xbBKdhCCFgVVaih2y3t7rFWZ_qLyvkYuhdMXgrHv5wy3wu6kk6vRxww5yHV7DqRbd1KQzKWO_b7tgjviMM2DoBeKIKfXH6WSkAX26_MiGTTX9LDuxj/s1600/mulher+solit%C3%A1ria.jpg" height="167" width="320" /></a></div>
<div style="background: white; line-height: 14.5pt; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #141823; font-family: Helvetica, sans-serif; line-height: 14.5pt;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 14.5pt; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #141823; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 14.5pt;">Leide era uma senhora tipo clariceana, sabe, meio altiva e meio
triste, sempre com óculos escuros, solitária, não constituiu família. Vivia de
favores de parentes, de parcos abraços de aniversário e de visitas de
compaixão. Uma quarentona, quase beirando os cinquenta, queria amar e não tinha
a quem. Até que um sobrinho longínquo, lá das bandas do Ceará, lhe ligou. O
telefone que nunca emitia som, emitiu naquela tarde. Ele estava se mudando para
São Paulo, passara no vestibular de filosofia, e precisava de um apartamento,
algo pequeno, para alugar. Nossa, que felicidade a de Leide! Arrumou-se na
mesma hora, pegou o primeiro táxi e foi olhando as placas nos apartamentos. A
cada um que entrava, feliz, com seus óculos escuros, ela exclamava uma
mentirinha boa, sabe, uma mentirinha que lhe completava a solidão:</span></div>
<div style="background: white; line-height: 14.5pt; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<span style="color: #141823; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
- Sabe, é para meu filho, quero algo bom!<br />
Visitou vários apartamentos, sempre dizendo o mesmo texto, às vezes com uma
mentirinha ainda mais terna:<br />
- É para meu filho, sabe, um rapagão bonito, que eu amo muito, e quero
encontrar o melhor lugar para ele!<br />
Ai Leide, como dói a vida...<o:p></o:p></span><br />
<span style="color: #141823; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="color: #141823; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="background: white; line-height: 14.5pt; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<a data-hovercard="/ajax/hovercard/user.php?id=100003977542817" href="https://www.facebook.com/angela.vilma.5" style="cursor: pointer; line-height: 14.5pt;"><span style="color: #3b5998; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-decoration: none; text-underline: none;">Ângela
Vilma</span></a></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-28561393630707004322014-05-13T09:07:00.000-07:002014-05-13T09:07:54.422-07:00
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZhpTsT5_TWjCRjLzjL174kNQ876iiHmQbDFsw0B99SQ3mAVV0pqIh7zIlJjyBtYH-ur5lMYSe8Pzi2PFVLkPGcpxINS80wWiGphA3L3W9QL32Lhyphenhyphenh9noiRumzeipCLgwh6IyFm3LSvdP8/s1600/compreensao.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZhpTsT5_TWjCRjLzjL174kNQ876iiHmQbDFsw0B99SQ3mAVV0pqIh7zIlJjyBtYH-ur5lMYSe8Pzi2PFVLkPGcpxINS80wWiGphA3L3W9QL32Lhyphenhyphenh9noiRumzeipCLgwh6IyFm3LSvdP8/s320/compreensao.jpg" /></a>
<i>
Quero o teu silêncio de pano mais ordinário, de chita, mas também de madapolão. Teu silêncio rico diante de minha tristeza, porque todo ser humano tem direito a ela, à tristeza, sem precisar ouvir conselhos de Osho e de autoajuda. Se sou mulher que ama demais? Sou sim, e daí? Mas não me aconselhe a ler esse livro, meu amigo, não me aconselhe, porque senão não sei do que serei capaz; de dormir dez dias, satisfeito? Aos invés de qualquer palavra, apenas escute o meu silêncio e tente lê-lo. Vele meu sono estúpido diante desse sol chamando pela vida. Ave, deixe o sol chamar pela vida, porque nem todo mundo está a fim de sol. Veja os sertanejos por exemplo, querem chuva. Queria assistir contigo Deus e o diabo na terra do sol. Queria que chorasses naquela parte das bachianas em que Corisco roda com Yoná naquele beijo mais comovente do cinema; cinema, essa espécie de teatro da alma. Há coisas felizes, e que só a arte e a compreensão trazem. Chamo amor de compreensão, porque amor como chamam por aí não há. Compreensão. Palavra mais difícil que essa, impossível. Compreensão: você descascando uma laranja para mim, por compreensão, por zelo. Amor? Essa palavra não me diz mais nada. Oca, como as novelas da globo. Prefiro sentar contigo nos trilhos de um vagão que desapareceu. Mas que a qualquer momento poderá aparecer, de súbito, e nos engolir. aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-63882174771946137162014-05-13T08:03:00.002-07:002014-05-13T09:11:10.384-07:00Cotidiana
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBQagpoqz1Q3DonJ-7POVhTM2Z4Nx2uyWarlx2-wYZ_oOu-arzPyznbhQuuPIzLDHqb0n9m7XNViZPgf5sPTtfK2zcffrQs9jODtjZm0E7Gu6VNvqqLY_2qA0GWP_C-YPQtzzHWO4KXkmu/s1600/novo+sol.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBQagpoqz1Q3DonJ-7POVhTM2Z4Nx2uyWarlx2-wYZ_oOu-arzPyznbhQuuPIzLDHqb0n9m7XNViZPgf5sPTtfK2zcffrQs9jODtjZm0E7Gu6VNvqqLY_2qA0GWP_C-YPQtzzHWO4KXkmu/s320/novo+sol.jpg" /></a>
Enquanto os holofotes ficaram no Facebook - terra hollywoodiana - aqui posso sentir a paz das montanhas, com total reintegração de posse. É, demiti a moça que só ficava de costas na pia. Daqui a pouco ela vem acertar as contas. Gozo agora a solidão dos malditos, sem gatos, como Orides; sem gravação de voz dos espíritos, como Hilda. Mas fazendo aqui por dentro uma casa do Sol.
A moça chegou, fomos acertar as contas e por incrível que pareça ela conversou como nunca! Contou toda a sua vida. Conversou, e foi na pia lavar os pratos (que nem precisava mais, já que fechamos as contas). De lá da pia ela conversava e virava para mim, contando os detalhes que seu filho mais novo fazia quando pintava o sete. Ela estava feliz, talvez por ter sido demitida. Acho que também não se sentia bem trabalhando aqui em casa.
Nunca, nunca entenderei o ser humano. Apenas me comovo, sempre. Essa comoção maldita que muitas vezes me enfraquece.
Mas não enfraqueci. Reintegrei-me à minha casa.
O sol é forte, e frio. Sol de junho.
Mandei por ela - para sua filha grávida - um ursinho de pelúcia que vivia de se esconder pela casa. Um ursinho marcado de lembranças que quero apagar. Sua filha construirá novas histórias com as minhas memórias deletadas; afinal todo urso de pelúcia tem um artifício de esquecer seu dono e suas lembranças lacrimosas.
A casa antes pequena ficou grande. Eu dentro dela posso correr, me deitar no chão, conversar sozinha.
aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-10565062564383579822014-05-12T14:27:00.001-07:002014-05-12T14:37:05.882-07:00
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3BliPs8rpsDD5TVk4RwPjniledeWCxEPVvO3ggWfzdQvZg2YjHG0Hz7ciEyFyVfRvcGaPGX6exfUmi775U5ora2ajjJgf3QVvrMjTPofwyd5YESqtWpozhsQZpOtefTCz3cQhIBrFJged/s1600/na+ro%C3%A7a.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3BliPs8rpsDD5TVk4RwPjniledeWCxEPVvO3ggWfzdQvZg2YjHG0Hz7ciEyFyVfRvcGaPGX6exfUmi775U5ora2ajjJgf3QVvrMjTPofwyd5YESqtWpozhsQZpOtefTCz3cQhIBrFJged/s320/na+ro%C3%A7a.jpg" /></a>
preciso sair da raiva e entrar no amor. Botar o facão do lado de fora da casa e cuidar de fazer um café quentinho. Esperar a noite chegar com um candeeiro e um radinho de pilha. Preciso aprender a dormir cedo e acordar juntamente com os pássaros. Recolher tarefas gostosas de fazer, abrir a janela do escritório e ler um livro de poesia.
Seja lá onde estou, preciso voltar para a roça.
Há um milharal grande aqui dentro, uma terra vermelha
e pássaros pretos cantam que dá gosto.
E quando a gente abre os livros - aprendi isso desde menina -
a casa se enche de gente boa; gente interessante.
A vida ganha sentido.
Vou agora servir um café para meu querido Carlos Pena Filho. Que, coitado, desde sua ida tão cedo, aos trinta e poucos anos, na avenida Caxangá, nunca mais sentiu o gosto de um café fresquinho, coado em coador de pano.
Lá no céu há café expresso, Carlos, meu querido Carlos?
Acho um horror café expresso, Carlos, um horror.
aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-46385263882496204462014-05-12T14:07:00.000-07:002014-05-12T14:12:02.932-07:00nem tenho paciência para colocar título nesse textoOs primeiros índios que aqui moravam ao darem de cara com os primeiros colonizadores portugueses endoidaram com seus badulaques. Olhavam, tocavam. Podemos dizer que em primeira instância, óbvio,os portugueses foram muito dos bem recebidos. Restou-nos portanto como herança, a nós brasileiros pós achamento do Brasil, essa adulação com os badulaques dos estrangeiros. Basta, pois, uma criatura branca travar a língua, lá vai o povo adular. Basta uma criatura de olho claro pintar uma tela por aqui vira um grande artista. E por aí vai. Se eu pudesse enxotava um por um. Isso vale também para os estrangeiros do sul: quem vem daquelas plagas do sul do brasil e que se acha europeu e chega por aqui botando banca de bonito. Poderíamos nós cá do nordeste brasileiro mandar tudo se catar. E quem é tirado a artista, se catar primeiro: vão embora maleditos com suas telas de enganar besta e seus versos equivocados ganhando concurso do lado de cá só porque parecem gringos. O ideal seria botar esse povo todo num caminhão e mandar para o sertão mais seco do nordeste: sem água nem para lavar o sovaco. Aí sim iriam virar gente de verdade.aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-32681317948131209972014-05-12T09:17:00.002-07:002014-05-12T09:27:33.777-07:00sobre minha casaEm muitos países não existe essa de ter empregada doméstica. Estou refletindo muito sobre tais coisas nos últimos dias. Minha casa é pequena, e quero tê-la só para mim. E a moça que há dois meses vem todos os dias fazer comida, arrumar a casa, lavar roupas,esses quefazeres que uma casa exige, não fala comigo. Vejo-a sempre de costas na pia. Se falo com ela, ela responde de costas mesmo, grungunando. Como ainda não sei gerenciar uma casa, deixo por sua conta e risco o cardápio. E eu nem preciso adivinhar o que me espera na mesa: frango, um feijão mumificado, um macarrão já morto desde domingo, e que ela reaproveita, e uma salada sem qualquer estética. Perguntei a ela porque o frango não foi utilizado para omelete, e ela responde secamente, de costas, que eu disse que não gosto de gorduras. Replico dizendo que ela própria um dia fez um sem gordura. Digo, "você também poderia fazer uma panqueca". Aff, ela de costas repete: "panqueca". Por que, misericórdia divina, todo dia treino para despedi-la e na hora agá falta coragem? Todo dia digo pra mim mesma: de amanhã não passa. O que não passa é minha morredeira, já que a cama virou meu esconderijo; sim, me escondendo DELA; para não ter que vê-la.
Agora, nesse momento em que escrevo isso, vejo-a de costas sobre a pia. Tudo na criatura me enerva, me dá impaciência e infelicidade.
Penso: posso muito bem voltar a ter minha casa só para mim. Posso até aprender a cozinhar. Posso até aprender a gostar, quem sabe, e lançar um livro de receitas?
Uma coisa é certa: quero minha casa só para mim. Minha pia só para mim. Nunca, nunca ficarei de costas na pia. Eis o trauma. Lavarei um prato e olharei para a porta, em busca de alguém, alguém. Existe sempre alguém atrás da pia. É isso que treino dizer para essa moça no dia em que tiver coragem de despedi-la. E não vai demorar. Amém.
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9Jq4dX5wcoZmk-Co2orfbFKBvNwBWj3TFEQI71Gl7-hLrFgsMvDOLE87TCo3zvGY31BCFrWpnVshuUQjsS0RbrzhyNemFJMJMOnZjJAdTxx54VawdMATRaXgy3g2zO_zrTb4GK3X0XD8V/s1600/arrumar+a+casa.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9Jq4dX5wcoZmk-Co2orfbFKBvNwBWj3TFEQI71Gl7-hLrFgsMvDOLE87TCo3zvGY31BCFrWpnVshuUQjsS0RbrzhyNemFJMJMOnZjJAdTxx54VawdMATRaXgy3g2zO_zrTb4GK3X0XD8V/s320/arrumar+a+casa.jpg" /></a>
aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-62466338565353935192014-05-11T15:02:00.000-07:002014-05-11T15:16:48.190-07:00de volta para o aconchegoSer fiel a si mesma também implica sair de cena. Fechar a cortina por exemplo. Cortina rasgada, velha,como é a cortina do Facebook. Deixei aquilo lá, porque quero continuar fiel a mim mesma, e ali é teatro de quinta categoria. Saí por puro instinto de sobrevivência, senão iria morrer verde de raiva, em tempos do retorno de Hulk.
Volto sem poesia, mas com memória, que esta é a minha assinatura.
Volto com Andaraí, minha terra, na alma, pulsando, transcendendo uma mera topografia.
Ontem assisti novamente ao "Cascalho". Um primor cinematográfico. Volto então com Tuna Espinheira, com Herberto Sales, com a força dessas duas obras: literária e cinematográfica. Volto para meus discos, meus filmes e meus amigos.
Abaixo, os dois grandes artesãos: um da palavra verbal (Herberto) e o outro da imagem (Tuna Espinheira)
"<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3yj_Hg3b4RwoEeJP9nkn_GSX0A8Uk9wXSQP6Cw6eO8GQXEQgEcKnbH0uQcddo4QxGrO8UY0eLBxInl1uIC0kLSfoiYRrYP0YJL3V4zMQblGceoxDrGsGJFcnujBhtW9LCvBaPEIb0M76A/s1600/Herberto+escrevendo+cascalho.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3yj_Hg3b4RwoEeJP9nkn_GSX0A8Uk9wXSQP6Cw6eO8GQXEQgEcKnbH0uQcddo4QxGrO8UY0eLBxInl1uIC0kLSfoiYRrYP0YJL3V4zMQblGceoxDrGsGJFcnujBhtW9LCvBaPEIb0M76A/s320/Herberto+escrevendo+cascalho.jpg" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF_fnBznU5gSvQxWiUd4WvJyxPipSoysEVCMLfl1i-2_-bRmSrU6Bvw5DugmNMC6HFKACtrHVzYh2oITdwBBlKdEdVWZs-GzOuPxwWktAGO9ugmJHEKixJbXhLw1X7ZxO5wyxjJpl5iacf/s1600/Tuna+Espinheira+filmando+cascalho.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF_fnBznU5gSvQxWiUd4WvJyxPipSoysEVCMLfl1i-2_-bRmSrU6Bvw5DugmNMC6HFKACtrHVzYh2oITdwBBlKdEdVWZs-GzOuPxwWktAGO9ugmJHEKixJbXhLw1X7ZxO5wyxjJpl5iacf/s320/Tuna+Espinheira+filmando+cascalho.jpg" /></a>aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-16912828944296784572013-11-16T05:03:00.000-08:002013-11-16T16:31:49.775-08:00Reginaldo Rossi
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkYpjfjQpNXpmxyeDtE3Zcs_E4dKaTU7-tarl18bXCfiBPMh1tGX8C2Cqsb8x6xvRyu4PKZvy71eD-LtV4UBj_ccCzcw5h3Z99zQIUrZLx_uYoFvpXk8RIm40cWtsunYI-LfaKO1f-D7by/s1600/reginaldo+rossi.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkYpjfjQpNXpmxyeDtE3Zcs_E4dKaTU7-tarl18bXCfiBPMh1tGX8C2Cqsb8x6xvRyu4PKZvy71eD-LtV4UBj_ccCzcw5h3Z99zQIUrZLx_uYoFvpXk8RIm40cWtsunYI-LfaKO1f-D7by/s320/reginaldo+rossi.jpg" /></a></div>
Começo a narrar o acontecido com um velho clichê: "Não foi brinquedo não". É, ontem o show de Reginaldo Rossi não foi brinquedo não. O homem é uma figura interessantíssima, e faz parte do meu imaginário brega com muito amor. Mas a dificuldade para conhecer esse homem valeu uma passagem pelo Inferno. De verdade, o Inferno existe, o Inferno é vermelho, amplo, friorento, onde a área vip é semi-descoberta e tenta matar, quem está lá,de frio. Quem sobrevive, ganha uma nova vida. Foi o que aconteceu ontem com duas mulheres desamparadas: eu e mãe. Nós duas batemos queixo de frio das nove da noite (hora em que chegamos) até as três da madrugada. Isso porque o homem de cabelo de fogo, óculos escuros, vestido de preto, só apareceu no palco 1:00h da manhã. Antes disso botaram um cantorzinho fuleiro para desafinar à vontade. Este cometeu o maior pecado que nem no Inferno se deve cometer: inventou de homenagear Dominguinhos, e desafinou feio. Tal fanisquito de cantor dançou no palco das 11 da noite até a hora de Reginaldo Rossi ficar no "entra não entra". O palco todo decorado de vermelho fechou suas cortinas e a gente só ouvia o anúncio, aquele mesmo escutado desde às 9:00, nos intervalos: "Daqui a pouco espetáculo internacional, com Reginaldoooooooooo Rossssssssssssi!" Cortinas fechadas, chuva e frio no lombo, principalmente para os que estavam na área ampla, alguns gatos pingados (pouca gente foi a essa festa, verdade seja dita). Pois é, anúncio, anúncio, espeque no meio do cortina fechada, que mãe achou ser dois homens juntos, um montado no ombro do outro, e nada de Reginaldo Rossi aparecer. Aí mãe, coitada, morrendo de sono e frio, perguntou:
- Será que não é mentira, será que não inventaram que era show dele?
- Não é possível, mãe, não pode ser!
Passado tanto tempo, ela perguntou:
- Será então que ele não está é dormindo lá dentro?
Me acabei de rir, e respondi com os lábios e pernas tremendo:
- Deve ser.
Se dormia, foi duro para fazerem esse bendito homem acordar. A essa altura eu já me arrependia de ter ido. E me perguntava: "Por que tudo aqui é tão difícil?" Quanto me fiz essa pergunta eis que surge de lá o Homem. Todo praticado no preto, óculos escuros, cabelo de fogo, barriga pra frente, pernas finas, miudinho, cantando "Garçom"! Aí o coração bateu forte, mãe feliz, rindo, valeu, Deus! Daí em diante foi o desgramado falando esculhambação, contando as histórias de cada música famosa sua. Mãe não piscava o olho. Um só instante, pensei, vale um Inferno inteiro. A todo momento, quando ele finalizava uma música, ela me falava ao ouvido um número:
- Oito.
- Oito o quê?
- Ele já cantou oito músicas.
Quando deu quase três horas da madrugada, ela falou ao meu ouvido:
- Dezoito. Ele já cantou dezoito músicas. Quando você quiser ir...
Saímos de lá ouvindo ele chamar uma moça da plateia de gostosa e rabuda. Iria cantar "Leviana", música que, segundo ele, ensinava a mulher a tirar o dinheiro do marido, às escondidas.
aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-50208842969887988802013-11-09T06:51:00.000-08:002013-11-09T06:51:09.756-08:00O que se passa com nossa psique lá na barriga da mãe, diante da véspera de nascer? Deve ser a mesma agonia que teremos na iminência de morrer. A chamada gastura. Eu estou hoje, na iminência de nascer, com muita gastura. Vou nascer de novo amanhã, não façam estardalhaço. Pai, não solte foguete de novo, não gostei. E aquele entrai e sai de gente dentro de casa? Todo mundo falando "é a cara da mãe", "é a cara do pai", "é a cara do seo Jesuíno". Eu não tinha cara de nada, estava muito chateada, isso sim, de ter que passar por novas expiações e provas, sabia naquele dia (depois esqueci) de tudo que iria passar adiante. Essa memória não é clara, é evanescente. Eu enrolada em cueiros, com a cara amassada, berrando, criança feia como toda criança que acaba de nascer, feios como seremos na iminência de morrer. Os dois caminhos se cruzam: muita gente no quarto (não, não quero morrer no hospital), a parteira ao lado, mãe me abraçando, minha vó fazendo mingau de parida, um auê na casa, todo mundo mandando e desmandando em quarto, cozinha e sala, coisa que só em dia de morte se assemelha. Mãe pálida, nasci com os pés para fora, e não com a cabeça, que atrevimento. Dei trabalho a mãe Isaura, a parteira, parto demorado, água quente, pai do lado de fora, ébrio, tinha passado a noite na farra, o povo todo em preto e branco, em retrato perfeito da década de sessenta. Aquele bebê ali embrulhado na cama, como pacote, era eu. Aquele trocinho besta era eu. O que vim acrescentar ao mundo? Meu anjo da guarda começou a trabalhar nesse dia. Coitado dele.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjM2kDy5E1OpkAB669OQhqsuuvxgo9DW2e6IpBv2Hqw1_e3Pguqpw2OYkuH2eIaAwzC-TsHiq_58-eYc1g3-kOuKqxQkq1Cnd-qdbgM04c4kyjJcB1RSPCI4dRKXmcAW-7Sgl5u2UNrM6UU/s1600/eu+dentro+do+ovo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjM2kDy5E1OpkAB669OQhqsuuvxgo9DW2e6IpBv2Hqw1_e3Pguqpw2OYkuH2eIaAwzC-TsHiq_58-eYc1g3-kOuKqxQkq1Cnd-qdbgM04c4kyjJcB1RSPCI4dRKXmcAW-7Sgl5u2UNrM6UU/s320/eu+dentro+do+ovo.jpg" /></a></div>aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-71356014700908518392013-11-04T17:57:00.003-08:002013-11-04T18:00:11.402-08:00não se pagaSó fiz amar. Todos os dias, como se amar fosse algo natural, como minha própria respiração. E é.aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-28582408227757657282013-11-04T17:50:00.002-08:002013-11-04T17:50:33.574-08:0020132013. Um ano de provas e expiações. De tirar o fôlego. De tirar a pedra no meio do caminho e aparecer outra. Gigante. De resolver enfim levar a pedra nos ombros, para ver se tal sacrifício comove os deuses; mas os deuses são cruéis e nos transformam num novo Sísifo; Sísifo sorrindo, às vezes, desse destino besta e cansativo.
2013. Ano de rupturas. Ano de brigas. Ano de poesia. Ano de facebook, ano de abandonar essa casa, e passar por aqui apenas esporadicamente. Ano que ainda não decifrei seu significado. Ano treze, cabalístico.
2013. Sete anos completados, em maio, de minha defesa de doutorado. Cabalístico.
Tanto perdi, tanto ganhei: palavras, palavras, palavras.
O cesto se enche delas: como água, olho para dentro e nada mais vejo: desapareceram...
Resta-me eu sozinha. Aqui.
aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-83899601590202890672013-07-23T13:26:00.000-07:002013-07-23T13:33:47.048-07:00"Temos todo o tempo do mundo"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiC3dZpaj7nc87OBOXxOs3MaLhpJgUjl2gEe6dUFOtDzCZp0IhntnOAEU5rciAwMsXGeORhCoe2-NUkPmFpIldbd5AlCvwdcg61Yj3N3SNvGo4XQwPW-iGLa9GWdPjgKdCE5Y4j1rWDaKGg/s1600/banda+legi%C3%A3o+urbana.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiC3dZpaj7nc87OBOXxOs3MaLhpJgUjl2gEe6dUFOtDzCZp0IhntnOAEU5rciAwMsXGeORhCoe2-NUkPmFpIldbd5AlCvwdcg61Yj3N3SNvGo4XQwPW-iGLa9GWdPjgKdCE5Y4j1rWDaKGg/s320/banda+legi%C3%A3o+urbana.jpg" /></a></div>
Éramos bem jovens, numa festa de 15 anos. Lá fora os convivas, sem comida. Lá dentro, no salão, a debutante principal com seu séquito, a família, os amigos mais próximos, e as comidas. Um bolo gigante com o número 15 roubava a cena, e quem lá dentro entrava para poder sair custaria, no mínimo, o amassamento da roupa, do cabelo e do corpo: na porta de entrada havia um empurra empurra dos diachos. Nunca vi um salão social tão pequeno e com uma entrada menor ainda. Um espreme espreme de zoada de corpo se amassando uns contra os outros, enquanto que os convidados, raros, lá fora, nas mesas enfeitadas, esperavam os garçons começarem a chegar de lá de dentro; claro, se passassem vivos pelo espremedor.
Eu estava no espaço dos convivas: mesas brancas, com flores rosas. Mesas vazias. E morrendo de fome. Mas morrendo de fome mesmo. Foi por esse tempo que aprendi que devemos ir a festas já alimentados. Nossa turma toda sentada na mesma mesa, jovens e famintos. Chegou uma hora em que todos se aventuraram a enfrentar a porta. Ou enfrentariam ou desmaiariam de fome. Eu não, eu disse que não iria não. Ele, Ele ali ao meu lado, tão feio mas tão feio, morrendo de amor por mim. Disse, no seu terno heroísmo mineiro:
- Fique aqui quietinha, vou lá dentro e volto rápido; vou pegar um pratim procê.
Lembro bem, tocava alto Legião Urbana: "... Temos todo o tempo do mundo/ nosso suor sagrado é bem velho que esse sangue amargo.... "
Lá vem ele, sua volta custou o tempo de rodarem quatro músicas de Legião.
Mas enfim, ele apontou de lá quase maltrapilho, despenteado; parecia vir da guerra. E vinha da guerra com as mãos vazias, como sempre acontece.
Antes de eu dizer qualquer coisa, ele tirou de dentro do bolso da camisa uma uva verde, gorda, grande, e me deu. A uva não esmagou, conseguiu passar intacta pela porta espremedor. Ele disse:
- Apenas consegui pegar essa uva. Tinha muita gente se esmurrando na mesa dos comes. Nem os garçons conseguem chegar lá.
- Como você conseguiu passar na porta sem essa uva estourar?
- Eu a protegi com a mão o tempo todo, segurando-a dentro do bolso - falou suado e descabelado.
Talvez tenha sido essa a mais delicada declaração de amor que recebi de um homem.
aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-16299952265104607382013-07-16T09:19:00.001-07:002013-07-16T09:19:34.307-07:00a poesia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJQVwCqO9Ievi-_nSSjfbUNev3qSDkT53252MuA5nd1VaAqPkgwZtv47lcuaS04Mn4CPndQMJUPs6bGfF2MGqo5dU3uoSjOM9Cm_9YCDJUgvSrnY0jsWfNvt0QpzAs1SS8HU7gUOXzw8dQ/s1600/crian%C3%A7a+rezando.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJQVwCqO9Ievi-_nSSjfbUNev3qSDkT53252MuA5nd1VaAqPkgwZtv47lcuaS04Mn4CPndQMJUPs6bGfF2MGqo5dU3uoSjOM9Cm_9YCDJUgvSrnY0jsWfNvt0QpzAs1SS8HU7gUOXzw8dQ/s1600/crian%C3%A7a+rezando.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
Minha religião sempre foi a poesia.<br />
Para que eu ir buscá-la em padres, pastores, espíritas<br />
inveterados de verdades incríveis?<br />
Os poetas sempre souberam de tudo,<br />
Freud continua certo, por isso ganha meu respeito.<br />
Cantos? Orações? Benditos? Senta e levanta?<br />
Ajoelha-se? Sacrifica-se?<br />
Oh, Cristo, minha maior lembrança Tua<br />
é nas Bodas de Caná:<br />
Tu e Tua mãe festejando;<br />
Tu transformando<br />
água em vinho em demasia.<br />
Cristo é alegria, assim como o poema:<br />
profundo, triste, a salvar pessoas.<br />
Encontro-O em Cecília, em Bandeira,<br />
em Drummond...<br />
Nas pessoas terrenas que habitam<br />
os templos, ouço-O diminuto,<br />
lugar comum, que é atributo<br />
de quem não tem mundo interior.<br />
<br />aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-81996239106295706222013-07-15T13:21:00.001-07:002013-07-15T13:31:59.730-07:00amor sozinho<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyVqUBhg8lOxH2CqnHn8_rjLxiAk-sWdWwL31UCSW3g7GauBsU5T2quCOMlsBMCgLpFNQPbU9ij-muB96UmtJNQT6zWwzG43uuPM2_n-SdAJKNh5pvYTJ3kzSO6fVP2uok2wlkhsq35-Wj/s1600/amor+sozinho+-+poema.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyVqUBhg8lOxH2CqnHn8_rjLxiAk-sWdWwL31UCSW3g7GauBsU5T2quCOMlsBMCgLpFNQPbU9ij-muB96UmtJNQT6zWwzG43uuPM2_n-SdAJKNh5pvYTJ3kzSO6fVP2uok2wlkhsq35-Wj/s1600/amor+sozinho+-+poema.jpg" /></a></div>
<br />
Ele não me quer de maneira alguma.<br />
Nem que eu o amarre, nem que eu ameace<br />
cortar-lhe os pulsos<br />
nem que eu lhe dê as estrelas.<br />
Talvez ele nem goste de estrelas.<br />
E até de vinho, que todos gostam, ele gosta<br />
mas em pequenas doses<br />
porque a embriaguez pode levá-lo a mim<br />
a quem ele não quer<br />
como quem não quer, do além, ouvir vozes.<br />
<br />
Ele não me quer de maneira alguma.<br />
Com ou sem anel, com ou sem pulseiras,<br />
com ou sem roupas.<br />
Ele nunca será Fellini,<br />
portanto não abraçará Gelsomina.<br />
Enquanto durmo sonhando acordar Heloísa<br />
para ser amada por Graciliano,<br />
ele prefere amar quem nunca será eu<br />
nem em filme, nem em literatura.<br />
Portanto, estou mais para Orides Fontela<br />
sozinha e amarga, a vociferar contra os ventos.<br />
<br />
Ou Sylvia Plath, mesmo sem aquela lindeza<br />
aquela lindeza que não lhe garantiu ser amada.<br />
Enfim,<br />
escrever poesia é o meu destino<br />
ambíguo e sem rumo<br />
porque amor, nem de amigo.<br />
<br />
<br />
<i>Imagem: "amor sozinho". In: www.google.com.br</i>aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-13698868138463541682013-07-13T19:17:00.001-07:002013-07-13T19:17:05.561-07:00arquitetura<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK5iu3Z6BD8Mr6iBqCa9WeqWgccj7hCdsct31ogSfKbKdOL99m9zQAOln-1U9bNm_FISmwgW8TG3VcelN1930s46YKKQe3k1EtYGo_6r1Xm-BWVyxQHawKhdR6Frhf3dDBoDX-MbKLfVtD/s1600/escrit%C3%B3rio+de+hilda+hilst.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiK5iu3Z6BD8Mr6iBqCa9WeqWgccj7hCdsct31ogSfKbKdOL99m9zQAOln-1U9bNm_FISmwgW8TG3VcelN1930s46YKKQe3k1EtYGo_6r1Xm-BWVyxQHawKhdR6Frhf3dDBoDX-MbKLfVtD/s320/escrit%C3%B3rio+de+hilda+hilst.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
Não acreditou que eu soubesse seu nome completo.<br />
Eu disse que sim, sabia.<br />
Me pediu que então eu o declamasse<br />
Para ele.<br />
E assim o fiz,<br />
Firme:<br />
Com a pompa de quem inaugura<br />
Uma república<br />
Como quem faz do nome do outro<br />
A moradia mais lúdica<br />
<br />
Como quem constrói uma casa<br />
Para lá morrer.<br />
<br />
<br />
<br />
<i>Imagem: escritório de Hilda Hilst na sua Casa do Sol.</i>aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-62615521138051311952013-07-12T20:55:00.003-07:002013-07-12T21:05:44.462-07:00retirado de um folhetim<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVnewudFrmoFIiuWZs_vWpBgy84ledQAU5ZBk3oH2SBJWPau0OiLEvSmoQ2ZqUWTsTPQAJgxHYGHkJKDpvKroPUcCg6MusckPa6k9igmnkDbGchoCjt5lgFluYMqwbiJPZszzxA1NGO7B4/s1600/sentimento+frustrado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVnewudFrmoFIiuWZs_vWpBgy84ledQAU5ZBk3oH2SBJWPau0OiLEvSmoQ2ZqUWTsTPQAJgxHYGHkJKDpvKroPUcCg6MusckPa6k9igmnkDbGchoCjt5lgFluYMqwbiJPZszzxA1NGO7B4/s1600/sentimento+frustrado.jpg" /></a></div>
<br />
Ela entrou na fila com o vinho. Só que teve o cuidado de perguntar à vendedora se aquele era suave. Era tinto, mas era suave? A moça não soube explicar e perguntou ao empacotador, que respondeu que não, era seco. Ela voltou lá e pegou o vinho mais caro, e que tinha escrito em letras vermelhas: "suave". Entardecia, e ela também comprou preservativos, e aproveitou a última loja aberta do shopping para comprar lingerie: calcinha e sutiã vermelhos.<br />
Chegando em casa, imediatamente colocou o vinho na geladeira. E o preservativo no criado-mudo.<br />
E foi tomar o banho mais demorado e mais minucioso de sua vida. Cuidou de si com a maior das delicadezas, inscrevendo promessas no seu corpo em cada enxague do sabão.<br />
E lembrou, claro, de Roberto Carlos e Djavan, enquanto se perfumava: perfumou-se do dedo do pé ao pescoço, quase se sufocou com tanto cheiro.<br />
Ele estava pra chegar.<br />
Ele ia chegar.<br />
Ele chegou.<br />
Porém, o vinho continuou fechado na geladeira, o preservativo no criado-mudo e a lingerie escondida sob sua roupa. E no dia seguinte a empregada, ao abrir a geladeira para pegar a manteiga, disse-lhe com realismo e tristeza:<br />
- E a senhora comprou o vinho... E não abriu. Vai perder.<br />
E ela, para se conformar, lembrou que Roberto Carlos também já perdeu muita coisa. E que Djavan está com mal de parkinson. Ela que sempre odiou a competição com as dores alheias, estava ali buscando uma salvação impossível.<br />
E também como era masoquista! Foi à geladeira e abriu-a. E olhou o vinho fechado, recolocando-o no lugar. Mas não tirou a lingerie que ainda continuava vestida, e não tocou no preservativo.<br />
Ela sempre soube desse desfecho, era seu eterno retorno: insistência com o Destino.<br />
História repetida, dolorosa e antiga. Vinho envelhecido, nunca tomado.<br />
<br />
<br />
(Salvador, 23/02/2010)<br />
<br />aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-57532545947298695622013-07-11T20:02:00.000-07:002013-07-11T20:02:05.917-07:00INTEIRA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXkt5BYXfyRHAyS8AmiGbftGhP0ojfM97nR1iy8p5Ui0vRtGTTk3U68-FffYXVxMUqpd6lMU7xYjaL-pb6em55-EqRxegeLF6vCZ9t0lJJxv6jJv40SihAnRHIRktL4K77qQYVZFbZbtUl/s1600/amor+e+sexo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXkt5BYXfyRHAyS8AmiGbftGhP0ojfM97nR1iy8p5Ui0vRtGTTk3U68-FffYXVxMUqpd6lMU7xYjaL-pb6em55-EqRxegeLF6vCZ9t0lJJxv6jJv40SihAnRHIRktL4K77qQYVZFbZbtUl/s1600/amor+e+sexo.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #333333; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br />
<br />
<span style="background: white;">Busco um homem que
me veja inteira:</span><br />
<span style="background: white;">vísceras, fígado,
costelas, peitos,</span><br />
<span style="background: white;">como num açougue o
freguês vê direito</span><br />
<span class="textexposedshow"><span style="background: white;">aquilo que compra, com acuidade</span><span style="background: white;"><br />
<span class="textexposedshow">sabendo que achou o que é precioso.</span><br />
<span class="textexposedshow">Não como um garimpeiro, cessando a bateia</span><br />
<span class="textexposedshow">para encontrar o diamante:</span><br />
<span class="textexposedshow">Luz manifesta de tudo que é perfeito, e brilha.</span><br />
<br />
<span class="textexposedshow">Busco um homem, insisto, que me veja inteira:</span><br />
<span class="textexposedshow">garganta, dentes e gengivas,</span><br />
<span class="textexposedshow">laringe e língua. E que me vire de lado e de frente</span><br />
<span class="textexposedshow">constatando, fremente, que valho a pena</span><br />
<span class="textexposedshow">no tato, no paladar, no olfato,</span><br />
<span class="textexposedshow">e principalmente na alma:</span><br />
<span class="textexposedshow">minha alma no seu prato.</span></span></span></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-68796479827893501112013-07-08T20:11:00.001-07:002013-07-08T20:13:56.112-07:00dois poemas para teu nome<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5ROf3y-_awtD3XZJOH-Me4c5ph7ZYeUUGVp8CPAttAVl4rUYlr4b4gS-6I_PNGOzv47ehZ00cYZlbuU6qHsYwMSc-kuNLE1Ir-3MX9XRvc19vUMGSAlBF7Em4qLW0Nq6UMwnoztdLs2LA/s1600/mulher+poeta+escrevendo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5ROf3y-_awtD3XZJOH-Me4c5ph7ZYeUUGVp8CPAttAVl4rUYlr4b4gS-6I_PNGOzv47ehZ00cYZlbuU6qHsYwMSc-kuNLE1Ir-3MX9XRvc19vUMGSAlBF7Em4qLW0Nq6UMwnoztdLs2LA/s1600/mulher+poeta+escrevendo.jpg" /></a></div>
<b><br /></b>
<b>DOIS POEMAS PARA TEU NOME</b><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;">1.</span><br />
<br />
Sei teu nome de cor, teu nome completo<br />
aberto feito uma flor, uma flor silvestre<br />
doce e perversa, ácida e inerte.<br />
Nenhum vento balança teu nome<br />
enorme, parado no mundo, como terrível musgo<br />
grudado nas funduras de um palácio de bronze.<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; font-size: 8.5pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">2.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Tahoma, sans-serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
Teu nome completo é um
poema:</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">
<span style="background: white;">Verso de um epigrama, ou
dor de uma elegia.</span><br />
<span style="background: white;">É uma lenda enorme, uma
canção, inscrição</span><br />
<span class="textexposedshow0"><span style="background: white;">no Oráculo de Delfos:</span></span><span style="background: white;"><br />
<span class="textexposedshow0">Destino sem remissão;</span><br />
<span class="textexposedshow0">mas uma alegria.</span><br />
<span class="textexposedshow0">Epitáfio, podes gravá-lo em mim,</span><br />
<span class="textexposedshow0">aqui, nessa veia.</span></span></span><br />
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="background: white;"><span class="textexposedshow0"><br /></span></span></span>
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="background: white;"><span class="textexposedshow0"><br /></span></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<span class="textexposedshow"><o:p></o:p></span>aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-21463369487313985442013-07-08T15:18:00.001-07:002013-07-08T15:21:06.241-07:00nessa cena<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Imensa saudade. E nunca
seremos personagens de qualquer nouvelle vague. Jamais serei Jeanne e tu,
Bernard; jamais sumiremos de madrugada, fugidos de casa; jamais. Sonho em preto
e branco, e a lua prateada mata, e a água do lago, e o meu cabelo solto e tua camisa
larga, tudo, tudo naufraga. Imensa saudade: eu nascer de novo, na madrugada, ao
te ver, após muitas vezes ter visto sem perceber; mon'amour em Dijon: sinto tua
boca descer e me levar ao mundo maior; uma pena não entrares nessa cena. Eu só.</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi98_h393KLNwtmKJ33OULOXsq6BxIz_imrxVC2Rhnvwr_v1ewP_l4kn06-Js-zlKJPYwHzWFDzRLxw29rjExeGvJ5YBsyG1Y3mRuq2AwUWUoJrI9d0ahh5sKzYAILZOchRl-VucFNDBiLK/s1600/filme+les+amants.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi98_h393KLNwtmKJ33OULOXsq6BxIz_imrxVC2Rhnvwr_v1ewP_l4kn06-Js-zlKJPYwHzWFDzRLxw29rjExeGvJ5YBsyG1Y3mRuq2AwUWUoJrI9d0ahh5sKzYAILZOchRl-VucFNDBiLK/s1600/filme+les+amants.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<i>Imagem: Cena do filme Les Amants (1958), de Louis Malle.</i><br />
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i></div>
aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-2382833295258356322013-07-04T08:12:00.004-07:002013-07-04T10:24:06.808-07:00Para Maria Sampaio, o texto de número 1000<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDl16oKW6x9HPHIxV7ZjAfVewcPFS2_sFFqhXNcQLFSP1lZYVskah8AuNAyGq6feaaRtUF7xJmhGD3ohb62eJBKftTvCTCJiVSSpLY9v-E1d9RqHTrGu-cGNTOmz-hsKFmaNT2jvxLC2AN/s355/Maria+Sampaio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDl16oKW6x9HPHIxV7ZjAfVewcPFS2_sFFqhXNcQLFSP1lZYVskah8AuNAyGq6feaaRtUF7xJmhGD3ohb62eJBKftTvCTCJiVSSpLY9v-E1d9RqHTrGu-cGNTOmz-hsKFmaNT2jvxLC2AN/s320/Maria+Sampaio.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
No dia 4 de julho de 2007 abri essa casa. Tinha medo da terra, assim como continuo tendo, mas resolvi sair um pouco do ar e flanar no mundo. São seis anos de vagabundagem pelas vielas, ruas e avenidas desse lugar chamado internet. E esse é o texto de número 1000. O que significa escrever mil textos num espaço de seis anos? É verdade que passei algum tempo distante, escrevendo em outros lugares, mas também é verdade que fui fiel a mim mesma, não me deixando à deriva em alguma nuvem e não voltando mais. Por que é muito melhor voar numa nuvem do que tentar ajustar nosso corpo compacto numa cadeira e escrever teclando. É melhor escrever imaginando e o imaginário ser o próprio texto, livre de convenções e traumas: deixar finalmente o inconsciente berrar, sem armadilhas de ego e muito mais do superego. Mas o ego existe na escrita, assim como id e superego. O superego eu trato sempre de domá-lo no texto; tanto que depois de muito tempo sem me identificar por causa da opressão desse maledito superego, um dia fui lá e disse alto para todos ouvirem: meu nome é Ângela Vilma! Portanto, dei pancadas no superego. Assumi que habito um lugar no mundo e não me chamo apenas Aeronauta: porque além de nuvens tolero flanar na Terra.<br />
Na blogosfera, que hoje proclamam estar fora de moda, fiz amigos inesquecíveis. Cito uma, representando todos os outros: Maria Sampaio. Essa mulher, grande mulher, a conheci numa tarde junina quando, dentro de um apartamento em Salvador, sozinha, escrevia sobre lembranças do São João de minha infância. E aí ela surgiu do outro lado, começando uma grande, mas infelizmente breve amizade. "Ô essa menina", como esquecer isso que ela dizia? Ou então: "Vivá!'<br />
Maria Sampaio, alegria de todos nós. Dedico a você, minha querida Maria, esse texto número mil, por que você sempre significará a magia da blogosfera.<br />
Tenho certeza de que hoje você deve estar sentada agora na nuvem mais fofa do céu, olhando para a Terra e rindo, me perguntando se o Santo Antonio que trouxe pra mim de Pádua já fez o seu trabalho de me arrumar "o" namorado... Isso só te responderei quando nos reencontrarmos.aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-79316305853749654732013-07-04T05:20:00.002-07:002013-07-04T05:20:45.782-07:00minha prece<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbkpZ98UuhjQPvPdzijtYeahFWU3GPpHdHnPQWj6n5le8rf6nKcU48wRnzt-IHx6bBjRPQWoAfC4nj3AdxoV0XP96S-SCGo-uPpcCOqzc9XxDsCMa_H4jdkFnU4z1fLIDreA-Buatzv_UV/s316/filme+les+amants.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbkpZ98UuhjQPvPdzijtYeahFWU3GPpHdHnPQWj6n5le8rf6nKcU48wRnzt-IHx6bBjRPQWoAfC4nj3AdxoV0XP96S-SCGo-uPpcCOqzc9XxDsCMa_H4jdkFnU4z1fLIDreA-Buatzv_UV/s316/filme+les+amants.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Minha prece mais
profunda agora para todos os amantes; eles que nesse momento da noite estendem
braços para abraços enormes, gigantescos e abrangentes como a imensidão da
própria noite; que se aconchegam um no corpo do outro como folhas num galho de
árvore, em tempos de frio; que se amam como feras e como feras se entregam, na
doçura de tudo que é intenso e dá medo. Que se monumentalizam na cama, no chão,
no tempo, como pessoas que driblam a morte nesse momento único.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: #edeff4; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 14px;">I<span style="font-size: x-small;">magem: Cena do filme "Les Amants" (1958) de Louis Malle, com Jeanne Moreau e Jean-Marc Bory.</span></span></div>
aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2118619814779226422.post-21409674344004770822013-06-28T16:29:00.002-07:002013-06-28T16:30:44.167-07:00no cinema<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQTTF-75Obde9epmMQscxOhc6P5-I1wX9HVEUY0MI7EnicfPL6m5_3kWqdiukh-0tj5fWSYPoy9uZgLAdFYqm1dH6TT2qZCDUvIUPEg_p69HNjUHC7c6eIvGdTyALZRHHYOUZTgGPyWPUt/s960/MAIOR+FILME+DE+AMOR.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQTTF-75Obde9epmMQscxOhc6P5-I1wX9HVEUY0MI7EnicfPL6m5_3kWqdiukh-0tj5fWSYPoy9uZgLAdFYqm1dH6TT2qZCDUvIUPEg_p69HNjUHC7c6eIvGdTyALZRHHYOUZTgGPyWPUt/s320/MAIOR+FILME+DE+AMOR.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_51ce1a17179398d61969413" style="display: inline;">
<br />
Não somos namorados<br />
desses que se encontram no portão<br />
sob o olhar do lampião de antanho,<br />
<span class="text_exposed_show" style="display: inline;">mas como queria poder assistir<br />contigo<br />"Candelabro italiano":<br />nós dois<br />montados numa lambreta<br />a passear pela antiga Roma...<br />Ah, e "Casablanca"?<br />Beijaria tua boca enfim<br />o beijo da década de quarenta:<br />lábios apenas se encostando,<br />e o espanto dos olhos entremostrando<br />nosso solene e lindo drama.<br /><br />Não somos namorados<br />mas queria assistir contigo<br />"Os melhores anos de nossas vidas".<br />Depois, só nós dois<br />e Doris Day cantando<br />"Que sera, sera"<br />no mais lindo filme de Hitchock;<br />e para assombrar um pouco nosso presente<br />iríamos ao futuro com Bette Davis<br />naquela personagem velha e cega<br />de "O Aniversário"; preservaríamos<br />como amuleto, a bela Bette de "A malvada".<br /><br />Iríamos, jovens, aos futuro, para<br />passar a "Meia-noite em Paris";<br />sem deixar, após, de visitar a Fontana di Trevi:<br />serias Mastroianni buscando o gato<br />para Elza, não para Anita;<br />Serias Fred, um velho argentino e<br />não o jovem Marcello, italiano.<br /><br />Hoje, nesse dia, namorado de mentira,<br />estás pelas ruas, solitário,<br />como o homem magro de Clarice<br />a tocar violino na esquina<br />que Suzana Amaral não aproveitou.<br />São tempos de igrejas<br />e não de cines;<br />de filmes e não de fitas...<br />Onde, digas, construiremos<br />nosso "Cinema Paradiso"?<br />Estamos em pleno "Inferno n. 17"<br />e "Antes do amanhecer",<br />inexoravelmente, não mais existiremos.</span></div>
<span class="userContent" style="background-color: white; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px;"></span><br />
<br />
<i>Imagem: Cena de "Casablanca" (1942)</i>aeronautahttp://www.blogger.com/profile/12196094135194320992noreply@blogger.com3