
Tenho verdadeira comoção pelo ser humano. Sua arrogância, seu apelo, sua solidão. Todos são doces, até aqueles que te ignoram ou te odeiam. Todos, em algum momento do dia, se curvam, flexíveis, diante da dor. E todos, inexplicavelmente todos, estão definitivamente perdidos. É isso que causa essa minha enorme comoção, a ponto de eu chorar forte por alguém que vi uma única vez na vida. Ou de vibrar, feliz, ao conhecer olhos adolescentes sem qualquer mácula, completamente abertos ao que virá. Sentir pele macia de bebê derreter-se em minhas mãos também é comoção, ternura se espalhando, vontade de reter o curso do mundo, guardando o bebê no fundo das mãos. E quantos olhos verdes, pretos, castanhos, azuis andando por aí, meu Deus. Para que tanta gente nas ruas, nos apartamentos, nas casas, nas varandas? Para que essa povoação sem fim, se tudo um dia envelhece e sofre e desaparece? Oh, como não amar quem me odeia se seremos, juntos, passageiros de Caronte; e possivelmente contaremos uma anedota enquanto atravessarmos o rio, para assim quebrarmos o tédio de uma existência fleumática e solene, distante e perdida... Diga-me, como não me comover com o império dos homens, se fotografias de pessoas bailando sempre desaparecem no porão do castelo?
Imagem: "La gente../La people.." Por foxspain.
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