Eu era louca para publicar um livro. Tinha cadernos e mais cadernos cheios de poemas há mais de dez anos quando surgiu a oportunidade de publicar um.
Beira-Vida caiu nas minhas mãos numa manhã de sábado, vindo pelos correios, e eu quando o toquei chorei ali mesmo, na frente de todo mundo. Tinha nesse dia vinte e dois anos de idade. Saí com meu amor e minha melhor amiga para comemorarmos. E fomos para a beira do rio, naquela manhã nublada, nós três rindo muito, numa felicidade cúmplice: minha amiga tinha feito a capa, meu amor tinha me dado a epígrafe, e eu estava com o livro publicado. Era demais para uma moçoila tímida que aos dezoito anos, indo ao cartório pra tirar o título de eleitor, foi recebida com perplexidade pela escrivã: ela não sabia que meu pai tinha uma outra filha. Onde andava você, menina?, me perguntou. Pois ali, naquela manhã, sentada nas pedras do rio, comemorava a estréia para minha primeira grande exposição pública. Lancei o livro em 21 de julho de 1990. Com um pimpão enorme no cabelo e usando uma calça jeans horrorosa, dei autógrafos. A família e os amigos presentes; pai trouxe seus parentes da roça e a cidade aplaudiu a moça que resolveu sair da toca. Daí em diante me transformei na poeta municipal.
Quatro anos depois veio
Poemas escritos na pedra. Tinha vinte e seis anos. Já cursava letras vernáculas quando ele ficou pronto, e o recolhi não mais nos correios de minha cidade, mas nos correios de Feira de Santana, numa avenida movimentada. Porém a emoção foi a mesma. Nessa época pai estava muito doente, e nos raros momentos de lucidez falou sobre seus três últimos sonhos: ter tempo de assistir ao casamento de minha irmã, de ir ao lançamento desse meu segundo livro e de ver o ano 2000. Minha irmã se casou e ele não pode ir devido à gravidade da doença; e quando meus livros chegaram ele já estava quase partindo; mesmo assim o lancei, por ele, em sua homenagem, em 04 de junho de 1994; em 05 de junho, o domingo mais triste de minha vida, ele morreu, só não realizando, infelizmente, de nenhuma maneira, seu sonho de ver o ano 2000.
De 1994 para 2010 são dezesseis anos. Nesse tempo participei de algumas antologias poéticas, mas livro individual de poesia havia se transformado em algo quase impossível.
Entretanto, com a acolhida terna de amigos, na próxima terça o triângulo se formará: será lançado
Poemas para Antonio. Três livros de poesia, acredito, já são três largas histórias, ainda que pequenas, para uma única e tímida vida.