
Uma menina dançando caminho das índias; um menino dançando mickael jackson; um menino jogando bola; uma menina cantando música da própria autoria; um menino com um microfone feito por ele, vestido com o paletó do pai, brincando sério com a vocação de repórter. Cinco meninos disputando duas vagas num concurso intitulado talento mirim. Claro que eu estava torcendo para o meu menino, talentoso demais; entretanto não pude deixar de perceber que a menina de onze anos, cantando música da própria autoria, também se destacava. O jogador também, via-se claro o talento nas pernas. Mas quem ganhou foi quem requebrou: a dançarina de caminho das índias e o mini mickael jackson. Como não lamentar? Oh, meu querido Vinícius, não fique triste, eu também perdi na sua idade muitos concursos. Aos doze anos cantava visceralmente uma música de rita lee. Não levei nada. Aos vinte, trinta participei de vários concursos de poesia. Chegava perto, mas nunca levei nada. Sei como é essa dor por dentro: parece que o peito vai se fechando, fechando. Dá vontade de dar um murro no mundo, quebrar os dedos de quem votou naquela menininha besta dançando caminho das índias; e intimar os pais do mini mickael jackson para uma conversa na delegacia. Ih, não leve a sério minha violência, você sabe que é só fachada. Mas hoje me senti com a sua idade, injustiçada num mundo que decide ser talento não as vocações intelectuais, mas tão somente àquelas relacionadas ao corpo e seus movimentos requebráveis.
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