
Para Naiana, que, com seu comentário no post anterior, me fez pensar nessas coisas
Pareço mesmo não fazer parte do mundo. Um pluft de desaparecimento meu e tudo continuará como dantes. A casa em que moro será entregue ao dono, e os meus pertences doados aos parentes - que não saberão o que fazer com tanta inutilidade. Li em algum lugar que a gente sofre pelo passado, não pelo futuro. Eu sofro sim pelo futuro. Nele vislumbro minha morte. Quem mora na filosofia e na arte tem sempre sua morte vislumbrada: não há como escapar desse fascínio, desse ímã, dessa fatalidade. Por isso a gente pisa nos dias com muita dor; saber-se mortal é saber-se menor, insignificante, perecível, sem muita validade. Em contrapartida, o que fazer de uma vida eterna? A sensação estável de uma vida infinita talvez nos cause somente uma vontade imensa de dormir. Enfim, não há solução, tudo é estranhamento e dessa estranheza saímos ou deprimidos - com alguns momentos de beatitude - ou imbecis, não sentindo conscientemente qualquer estranheza. Por que insisto nesse assunto? Acredito que todo esse diário resume-se a isso: minha quase completa ausência do mundo, mesmo ainda estando nele. O lugar onde mais me sinto ausente do mundo é numa reunião. Nela geralmente apenas apareço enquanto vulto, em total neblina, mortificada como se esperasse o momento exato de cair na chama inquisitorial da fogueira. É nesse momento que percebo não existir, de fato: ali onde estou sentada há uma lacuna, uma cadeira vazia, antecipando minha ausência que um dia será, claro, definitiva.
Imagem: www.google.com.br
11 comentários:
Aero, eu que tenho comentando tanto nos últimos posts - e peço perdão por isso - agora, fiquei sem palavras. Assim como você e a Naiana, também me sinto fora do mundo, muitas vezes. Bjs
P.S: Adorei a imagem da cadeira vazia, diálogo perfeito.
Lidi,
Você pede perdão por comentar meus posts? Posso te perdoar, talvez, por ter pedido perdão. Adoro seus comentários! Bjos.
Você jamais esteve e estará ausente, Aero. É só sua essa impressão de não ser notada. Vai por mim.
Bj
Oi, Chorik, sou notada, sim, mas como uma ausente. Bjos
É que estava escrevendo demais, Aero. ;) Bjs
Cara Ângela. Esta certeza me deixa em pânico há anos. Sinto-me fotografado em tuas palavras. Abraços.
Lidi: não está escrevendo demais não.
Paulo André: fui lá no seu blog retribuir a visita, fiz um comentário mas não consegui publicá-lo: não estou conseguindo publicar como aeronauta, só como anônimo, e lá não tem essa opção. Mas salvei o comentário feito sobre seu poema, e segue abaixo:
"Que coisa bela! Como você escreve bem!
Venho aqui agradecer a sua visita e tenho a felicidade de entrar numa belíssima casa: lírica, onde a poesia reina triunfante.
Grande abraço, e parabéns, Paulo André!"
Risos, Professora[não sei se te chamar assim seja o certo, mas tenho uma adoração por essa palavra], não sei o que dizer, mas dizendo, saber que o inútil existe mais do que a verdade nos dá essa lacuna. Ás vezes acho que deveria acreditar na verdade porque teria a certeza de tudo e não aquela certeza da " minha quase completa ausência do mundo, mesmo ainda estando nele." Sem a verdade, "...não há solução, tudo é estranhamento e dessa estranheza saímos ou deprimidos - com alguns momentos de beatitude - ou imbecis, não sentindo conscientemente qualquer estranheza." Acho que é o resultado de tentar saber muito.Mas, essa tenativa é contráditoria porque é nela nos agarramos para ter esses "momentos de beatitude". abraços apertados!
Ângela, a estranheza talvez seja o nosso modo mais original de ser... eu tbém participo disto.abs
Mulher Alada, se eu não fizer parte do mesmo mundo que você, quero pelo menos, vez ou outra, visitá-la. Minha amiga.
gostaria de ter escrito este texto.
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