"Filhos... Filhos?/Melhor não tê-los",
todo mundo conhece esse poema de
Vinícius, o célebre “Poema Enjoadinho”: "Mas se não os temos/ Como
sabê-los?" "Como saber/ Que macieza nos seus cabelos”... , etc etc
etc. Várias loas, enfim: depois de mostrar o lado chato, o poema termina
mostrando o lado divino de ter um filho.
Não minto, sempre tive curiosidade em saber como se
dá essa divindade de amor absoluto, só nunca possuí coragem suficiente, e não é
agora, com a idade já batendo na porta e pedindo guarida, que vou cometer essa
temeridade. Mas, para quem ainda não tem filhos e acalenta bastante dúvida a
esse respeito, e ainda tem em alta conta a sentença de Brás Cubas (aquela
famosa frase: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria"), a
essas pessoas sintonizadas com Brás-Machado de Assis, aconselho a lerem três
livros importantíssimos que tratam da temática complexa que é ter filhos:
"Marcoré", de Antonio Olavo Pereira (1957), "Na Relva da Tua
Lembrança", de Herberto Sales (1988) e "Diário da Guerra do
Porco", de Adolfo Bioy Casares (1969).
Herberto Sales sempre dizia e afirmava algo cruel:
"Todo filho é um bom filho da puta". Essa sentença talvez resuma o
teor dos três livros elencados acima. Marcoré, personagem que dá nome ao romance de Antonio Olavo Pereira, é tão cruel quanto os filhos que habitam os outros
dois livros, “Na Relva da Tua Lembrança” e "Diário da Guerra do
Porco". Nestes dois livros, os filhos, para se livrarem do incômodo que é
ter pais, e velhos, resolvem matá-los. Aconselho vocês a lerem a trilogia na
ordem acima, pois que "Marcoré" é o prelúdio para os assassinatos que
virão nos outros dois livros. Em "Marcoré" percebemos aquilo que
Rachel de Queiroz bem acentuou depois da leitura do referido romance: "
(...) não perdemos os nossos filhos apenas quando os vemos mortos: todos eles
morrem quando deixam de ser crianças e se viram homens e
mulheres...(...)".
Eis o fato: quando o filho nasce é uma fofura, um
bebê tão lindo, obra de Deus. Aos dois, três anos, lindo como anjo, fazendo
coisas de tocar o coração do ser mais bronco. Dos doze anos em diante as coisas
começam a mudar de feição.
3 comentários:
Eu sempre penso que é da natureza do homem CRIAR. Se não houver filhos, que hajam livros, que plantem árvores, que se exerça, de um jeito ou de outro, o dom da criação. O que se diz é que até determinada idade, precisamos "criar" corpos; com a maturidade, a criação torna-se ou deve se tornar mais sutil. Bom mesmo é que podemos criar sempre.
Abraços,
Sou filho, pai e avô. E adorei esse texto, Nauta. Um verdadeiro tratado sobre filho.
Os filhos podem ser terríveis, os pais podem ser terríveis. Na verdade, eis o homem. Bjs
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