Leide era uma senhora tipo clariceana, sabe, meio altiva e meio
triste, sempre com óculos escuros, solitária, não constituiu família. Vivia de
favores de parentes, de parcos abraços de aniversário e de visitas de
compaixão. Uma quarentona, quase beirando os cinquenta, queria amar e não tinha
a quem. Até que um sobrinho longínquo, lá das bandas do Ceará, lhe ligou. O
telefone que nunca emitia som, emitiu naquela tarde. Ele estava se mudando para
São Paulo, passara no vestibular de filosofia, e precisava de um apartamento,
algo pequeno, para alugar. Nossa, que felicidade a de Leide! Arrumou-se na
mesma hora, pegou o primeiro táxi e foi olhando as placas nos apartamentos. A
cada um que entrava, feliz, com seus óculos escuros, ela exclamava uma
mentirinha boa, sabe, uma mentirinha que lhe completava a solidão:
- Sabe, é para meu filho, quero algo bom!
Visitou vários apartamentos, sempre dizendo o mesmo texto, às vezes com uma mentirinha ainda mais terna:
- É para meu filho, sabe, um rapagão bonito, que eu amo muito, e quero encontrar o melhor lugar para ele!
Ai Leide, como dói a vida...
Visitou vários apartamentos, sempre dizendo o mesmo texto, às vezes com uma mentirinha ainda mais terna:
- É para meu filho, sabe, um rapagão bonito, que eu amo muito, e quero encontrar o melhor lugar para ele!
Ai Leide, como dói a vida...
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