sexta-feira, 4 de julho de 2014

Leide


Leide era uma senhora tipo clariceana, sabe, meio altiva e meio triste, sempre com óculos escuros, solitária, não constituiu família. Vivia de favores de parentes, de parcos abraços de aniversário e de visitas de compaixão. Uma quarentona, quase beirando os cinquenta, queria amar e não tinha a quem. Até que um sobrinho longínquo, lá das bandas do Ceará, lhe ligou. O telefone que nunca emitia som, emitiu naquela tarde. Ele estava se mudando para São Paulo, passara no vestibular de filosofia, e precisava de um apartamento, algo pequeno, para alugar. Nossa, que felicidade a de Leide! Arrumou-se na mesma hora, pegou o primeiro táxi e foi olhando as placas nos apartamentos. A cada um que entrava, feliz, com seus óculos escuros, ela exclamava uma mentirinha boa, sabe, uma mentirinha que lhe completava a solidão:
- Sabe, é para meu filho, quero algo bom!
Visitou vários apartamentos, sempre dizendo o mesmo texto, às vezes com uma mentirinha ainda mais terna:
- É para meu filho, sabe, um rapagão bonito, que eu amo muito, e quero encontrar o melhor lugar para ele!
Ai Leide, como dói a vida...






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