"Hoje, 12 de junho de 2007, estou agora sentada frente ao computador, dentro de um apartamento revirado, com uma pia cheia de prato sujo, com uma sala abarrotada de sapatos, mantas fora do lugar, livros desarrumados nas estantes... No quarto um monte de roupa para passar, um verdadeiro caos. E hoje eu só lembrei que dia é hoje porque, na famigerada manhã burocrática que tive, datei várias e várias vezes. Datei várias e várias vezes, preenchi diversos formulários, anotando números e números que me identificam para o mundo. Claro que paguei vários micos, errei muitas coisas, não me lembrava (ou não atinava mesmo) que carteira profissional era a mesma coisa que carteira de trabalho. Claro que o povo lá da sala burocrática ficou pensando que eu era ou burra demais ou muito doida. Puxa, uma mulher que preencheu o item do formulário como uma doutora em literatura não sabia interpretar aquelas perguntinhas... Saí me sentindo uma anta, pior, uma anta suada, fedida, com o cabelo nos mundos e com a cara amassada. Também, depois de ficar de sete da manhã às duas da tarde resolvendo essas coisas práticas que me entristecem e me cansam e me humilham, não era para estar mesmo com uma cara boa.
Ah, esqueci de dizer: a sala era apertadíssima. Onde eu estava sentada tinha um monte de caixa por todos os lados, inclusive perto dos meus pés. E toda hora vinha uma funcionária puxar uma caixa. Haja concentração! Nessa sala kafkiana estavam sentados eu, duas funcionárias, dois professores e outros que chegavam. Um converseiro horroroso! Os professores que recebiam os formulários e começavam a preencher também erravam, e perguntavam e erravam, e uma das funcionárias (a que me atendia) era nervosa, respondia com má vontade e escárnio, principalmente comigo.
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Voltando à sala. Depois que preenchi um dos formulários, entreguei feliz à secretária zangada. Ela olhou e com riso zombeteiro, perguntou: “professora, a senhora não sabe o seu cpf?” E eu, olhando para o papel onde eu me esqueci de preencher o número do cpf, disse: “Ah, eu nem vi isso aí”. Ela murmurou: “Esses professores...” com impaciência. O pior é que quanto mais papel vinha mais eu errava. Fiquei nervosa demais, me sentindo burraldíssima. Saí e acabei esquecendo lá o livro que eu levava, de Sterne. Liguei e vou ter que voltar amanhã para pegar o livro. Quem manda não ser desse mundo..."
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2 comentários:
saia do escritório opressor de kafka para o escritório indiferente de bartleby, aeronauta. se sentirá melhor. eu acho...
Como só descobri ontem o seu blog, tenho de ler um tiquinho a cada dia. Para degustar.
Muito encantada.
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