Uma das cenas de covardia que insiste em habitar minha memória é terrível. Vejam: eu e minha irmã indo para a banca, à tarde. Um solzão de lascar. Numa dobradinha de rua, três cabeças despontam dentro de um buraco: Janda e suas capangas - Lourdinha e Mariquinha. Estavam lá de tocaia, esperando. Quando elas nos vêem, saem do buraco. Cercam a gente. Aliás, cercam minha irmã, pois eu tratei logo de sair de banda. Enquanto Lourdinha, a secretária, segurava os livros da coitada da minha irmã, Mariquinha começava o ataque, e Janda, a chefona, só olhava. Todas estão instaladas num meio-fio, onde lá embaixo uma lagoa verde, de sapo, fedia à espera. Mariquinha tratou logo de abrir passagem e se jogou pra cima de minha irmã - que só não caiu no buraco porque grudou nas suas canelas secas. Nessa hora, Janda, ferozmente, já com toda a raiva que necessitava, partiu para cima com olho de cachorro doido. E eu? Onde estou eu numa hora dessas?
Ah, eu estou já perto da ponte, bem longe, gritando pela coitada que apanhava: Vambora Mã, vambora Mã, Vambora Mã...
Se não fosse uma filha de Deus, adulta, que passava na hora, minha irmã tinha se acabado.
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8 comentários:
O que sua irmã fez a Mariquinha e a Janda para atrair tanto ódio?
Marcus, não sei não. Mas não deve ter sido coisa que prestasse. Vou pedir a ela pra vir aqui responder: Mã, ô Mã...
AeroEspertaNauta
É isso que você sempre será.
Eu não sou muito diferente.
Sempre fui o mais novo da roda.
E o mais "fraquinho".
Os outros que me protejam.
Sempre!
Morro de pena dos medrosos. Sofrem em dobro. Essa Janda merecia topar comigo, merecia sim...
Não sei qual a covardia maior: se da gang ( três contra uma) ou a da irmã que passou sebo nas canelas e largou a pequena na boca dos leões.
Entre mortas e feridas, todas estão lépidas, hoje.
Ih, me veio à memória "O caçador de pipas".
Marcus: Meu problema era com Mariquinha. Mas como ela não tinha coragem para me enfrentar sozinha, resolveu covardemente contratar as tais capangas. E três contra uma, é demais, né? Tenho uma crônica hilária sobre essa história, mas é muito grande para colocar num blog. Nela você ia entender com mais clareza o que é ter uma irmã convarde e ainda defendê-la sempre.
Ó paí ó aeronauta, e ainda lhe chama de covarde. E se o texto é grande, Menina da Ilha, publique então em capítulos. Queremos ver sua versão.
ler todo o blog, muito bom
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