segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Liturgia do mundo
Imosec, aprilin, remédio dos carocinhos são as piores memórias de sabor que trago na boca. Minha irmã fazendo xixi na sala e tentando secar o chão com folhas e mais folhas de caderno, antes que a professora chegasse, é memória da visão desesperadora do inferno. A terrível memória do cheiro é a banha de galinha que mãe passava nos meus cabelos a fim de que crescessem infinitamente. "Eu morava na areia, sereia, e mudei para o sertão" é a carícia do vento que meus ouvidos recebiam, para que meu corpo sempre se lembrasse que infância é sentido grudado eternamente na pele, toque dos anjos, liturgia do mundo.
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9 comentários:
Talvez o alemão Dr Alzheimer esteja comendo meu juízo pois não consigo lembrar o que comi no almoço, mas os sons e cheiros da infancia estão aqui, neste exato momento, e foram evocados por seu texto.
Eu também lembrei-me dos cheiros da minha infância. Beijos. M.
Tô pensando nas bolotas de meleca daquele menino do outro texto... Cheiro de narizes escorrendo eternamente é um dos cheiros da minha infância. Nada poético? Verdadeiro, como esse seu texto.
Gemada com mastruz, chá de erva-doce, gosto de biotônico...repare, tudo remédio. Meu pai matava porco e galinha no quintal - serve cheiro e gosto de sangue? Abr. (carlos)
Falei ontem sobre minhas memórias da infância. Eu voltei a Santo Amaro, minha terra, e revivi tanta coisa: O sabor da comida, a maciez do quarto, o cheiro do talco, o som da voz..... a cachaça.
Ontem falei sobre minhas memórias de infância sentado na porta da vizinha da minha casa de infância. Tudo estava em mim: os sabores, cheiros, sons..... a cachaça.
Lá vem você destampando deliciosamente as nossas lembranças...Aero, o pior cheiro que conheço é de creolina do manicômio judiciário, fiz um estágio lá e pra mim creolina e angústia são primas irmãs.
Com mão-poetica até remédio vira poesia. Lembrei-me do gosto do sulfato ferroso no combate da minha anemia.
Gemada. Umbuzada. O o cheiro das prateleiras de venda do interior.
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