sexta-feira, 4 de julho de 2014

Não consegui, sozinha, gerenciar minha casa. Já que não suporto sujeiras e não tenho ânimo para limpá-las e curto muito mais ler um livro, contratei uma nova empregada. Essa tem ligações com São Paulo; no sotaque e no jeito civilizado. Chama água sanitária de "Cândida". E conversa comigo enquanto lava os pratos, olha para trás e diz que tem um namorado em Salvador. "É, dona Ângela, eu pegava, sabe, voos noturnos e vinha de São Paulo ver meu namorado, aproveito a vida."
É uma profissional, percebe-se pela discrição e talento para servir uma mesa.
E parece-me que gosta muito do que faz. Cozinha bem.
Só que reclamou hoje ter recebido uma empreitada daquela. Convidada para dormir com uma amiga de uma amiga, pago, claro, essa amiga da amiga quer prosa todas as noites antes de cada uma se recolher para seus respectivos quartos.
- Ai dona Ângela, está complicado. Ela precisa arrumar uma dama de honra. (Diz assim com bastante calma e elegância.) Ela conversa muito, sabe? Muito solitária!!
Fico me perguntando se também sou conversadeira. Acho que não. Só dou brecha para prosa na hora das refeições. Fora disso fico no escritório lendo e escrevendo. Ela nunca me interrompe. Muito decoro.
Espero que tudo dê certo dessa vez.
Sinto minha casa habitada. As paredes parece que conversam entre si, e os cômodos dialogam pela parede. Há algo no ar que quebra a solidão nefasta dos últimos tempos.

4 comentários:

Heloisa disse...

Que bom! Lindo texto como sempre.Bjos!

Heloisa disse...

Boa sorte dessa vez!

Carlos Rafael disse...

Bom que não converse muito. Melhor que escreva. Melhor ainda que publique para que a gente leia.
Estamos sentindo falta de novas histórias suas, Nauta.

Abração.

aeronauta disse...

Carlos Rafael Dias, o facebook acabou me tirando daqui. Mas voltarei, em breve. Bjos