segunda-feira, 11 de junho de 2012

profunda oração


Tive tantos namorados: um que apenas tocou minha mão; outro que sequer me amou, e aquele que, na rodoviária, ao se despedir, me deu um saco de pipoca. Guardei o saquinho, hoje bastante fino e amarelecido, na caixa bordada com laço de fita. Não esqueci não, moço, aquela despedida eterna numa lanchonete de Feira, quando todo mundo passava vivendo em plena manhã de segunda; nunca mais vi aquele mormaço: seu rosto desapareceu nele, assim como todas aquelas pessoas, na multidão sem nome. E o seminarista? E o gari? E o poeta falastrão? Não, nem todos os meus namorados tiveram chapéu. Mas um eu me lembro bem, tinha um paletó antigo, era quase um homem do outro mundo. Em compensação outro era por demais terreno, gostava de carnaval, e de história da religião. Os mais amados foram os artistas, os cabeludos, os tocadores de música. Desses minha alma é devota, em profunda oração.


Imagem: "Flor de romã transformada". In: www.google.com.br

2 comentários:

M. disse...

É um poema, Mulher Alada, um lindo poema. Bjs.

Sandra disse...

Deliciosas recordações! Cumplicidade plena de uma sensível mulher. Abraço Ângela!