sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

crônica de todos nós

Mesmo em dias amenos, incrível, mesmo em dias amenos, sinto-a ao meu lado, impondo sua presença invisível. Se em estado de deleite, aproveito o mar, ela faz questão de me cutucar mostrando as ondas enormes, não para constatar a beleza indiscutível, mas para lembrar a força esmagadora que têm para me engolir; claro, ela me lembra: você não sabe nadar. Entro num ônibus e ela ri gigantesca, sem dentes: "uma balançadinha só nesse treco,nessa curva, e você já era!!!" Tampo os ouvidos e fecho os olhos, sobrevivo à curva. Prossigo, frágil, com ela ao meu lado, vigilante cruel, mostrando-me sua onisciência e onipresença perversas; mesmo entrando em casa, depois de dias de total perigo, ela me lembra de sua existência enorme, maior que a casa, maior que a vida.

4 comentários:

Naiana P. de Freitas disse...

tornou a morte tão delicada neste estilo tão fluído. A leveza, sempre a leveza tornando tudo muito agudo.

abraços, Aeronauta!

Sandra Pereira disse...

Talvez seja mais fácil, mais simples e mais comum, disfarçarmos como todo "mortal" a existência "dela"...rs. Viver, como dizem por aí, como se a morte não fosse chegar. Eu não costumo pensar na morte, a vida me preenche todo o tempo...rs. Parabéns pela sutileza, Ângela! Grande abraço!

Tatiana Pequeno disse...

eu também sinto. eu também sinto.

Lidi disse...

A literatura é mesmo incrível. Falar da morte de forma tão bela, só através da arte, só através de escritoras sensíveis como você. Belo demais, Ângela. Bjs