domingo, 27 de dezembro de 2009

canção para adormecer os sonhos


Por aqui há inverno, flores docemente se balançam ao vento lírico, vento vindo de Paris, daquele café onde nos sentamos, há milênios, entre uma nuvem e o rio Sena.
Sorrateira, tenho apenas a certeza de uma realidade tangível, meu braço tocando facilmente o teu.
Meus olhos, perfeitamente duráveis, multiplicam-se nesses minutos que caem, um a um, num mundo sem festas, calmo, compartilhado.
Antídoto contra a tristeza, bebo gota a gota a melancolia. Para sair flanando atrás de alguma coisa, um sonho desses por exemplo, diferente de tantos, como daquele em que roubei um carro e morri de remorso.
E o outro, mais besta, em que roubei uma moto.
Oh, por que não roubar rubis? Ou bonecas de porcelana guardadas em baús envelhecidos?
Ou livros com dedicatórias para Antônio ou João ou Manuel...
E ser eu, quem sabe, Margarida, Teodora, Beatriz? Com um vestido longo e branco, andando por corredores, chamando teu nome, à guisa dos filmes antigos?...
Por aqui há inverno, flores docemente se balançam ao vento lírico, vento vindo de Paris, daquele café onde nos sentamos...


Imagem: "Winter sunset along the Seine, Paris", por Rita Crane Photography.
(www.flickr.com)

7 comentários:

Nilson disse...

Lírica diáfana, circular. Esse estilo que só a Aeronauta!

Anônimo disse...

Pô... que coisa linda! Você me comove.

Gerana Damulakis disse...

Também fiquei comovida: que beleza, aero. O lirismo atingiu o imaginário da leitora: simplesmente maravilhoso.
Vc me surpreende a cada texto, seja porque sabe encantar, seja porque sabe envolver; porque cada texto traz uma surpresa.
Foi lindo!

Anônimo disse...

Tua escrita é música para minha alma.

Bernardo Guimarães disse...

é assim que se faz: levar o leitor a sentir o vento frio que vem de paris...

Carlos Barbosa disse...

Aérea Persona, que viagens vc tem feito... Bacana, sempre muito bacana... Abr. (carlos)

Moniz Fiappo disse...

Que mais posso dizer? Sua poesia é encantamento.