segunda-feira, 6 de setembro de 2010
a grande lei
Não escrevo por nada não. Não tenho preocupação nenhuma em mostrar minha terra, minha condição nordestina ou coisa que o valha. Não quero descrever minha infância recheada com bolo de fubá, canjica e pamonha. Muito menos pincelar o folclórico das cantigas de roda que eu cantava e dançava. Que se dane o mundo, essa besteirada toda, escrevo por completo e total desespero. Por não ter coragem de pegar agora, na cozinha, aquela faca amolada. Talvez, como todo mundo, escrevo por puro cabotinismo: meu desespero quer se mostrar, e essa exibição, pior, tenciona ter forma estética. Meu desespero pensa, tem tempo de pensar, ao invés de simplesmente ir logo à cozinha e acabar com tudo. Enfim, meu desespero é metido a besta. Ora, ora, para que escrever, quando tudo seria mais rápido, mais fácil, com uma faca de ponta? Zaspt! Cabeça caindo no chão, obedecendo de uma vez à lei da gravidade.
Imagem: melancolia. In: www.google.com.br
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20 comentários:
Escreva, escreva, escreva, escreva sempre mais. Bom pra você. Melhor pra nós. Beijos.
Já mandei revogar essa lei. E interditar essa cozinha, área inútil. E vou lhe fazer o mesmo pedido de Mônica. Escreva, nem que seja por nós, desse mundo besta e cioso de estética.
Bj
Você precisa escrever, porque existe uma lei que determina que quem tem talento deve aproveitá-lo. Quanto a segunda lei, ela não deve ser aplicada, pois é muito cruel.
bem disse Clarice: a gente escreve é pra desabrochar.
no meu caso, sigo a lei da gravidade em queda livre no Elevador Lacerda.
Prefiro pensar que o texto é ficção. Prefiro mesmo.
É um grande texto de ficção escrito por uma pessoa com um enorme talento.
por mais que saiba se tratar de ficção, fiquei angustiado. nem vou reler...
Ficção. Não ficção. Tudo vem lá do fundo, do mesmo poço profundo.
Sua prosa pulsa. É a vida.
Abraço.
Também escrevo para viver. Não tenho a menor dúvida. E para viver sem enlouquecer. bjs.
Eu acho que escrever é meio assim, parece que surge como uma compulsão, uma vontade estranha de expressar seja lá o que for: angústia, dor, alegria, dúvida...
Ainda bem que o teu desespero pensa e é metido a besta. Bjs
Aero, chegou o livro!!! Estou um tanto histérica. Desci com o cachorro, resolvi dar uma última olhada na caixa de correio e ele estava lá. E é lindo! Eu amei o projeto gráfico. Achei o máximo. E amei a dedicatória. Vou ler hoje mesmo. Obrigada. Obrigadíssima!!!!!
beijos :)
Oi, Bípede, que bom! Estou muito feliz que tudo deu certo e o livro chegou. Bjos.
Aero, li o livro ontem à noite. Ele é absurdamente impactante. Você faz o coração da gente disparar, nos leva para dentro do envelope com tanta intensidade que a gente quase acredita que os poemas foram feitos para nós. O seu livro é tão lindo e em tantos sentidos, é delicado, é suave, é dolorido, é feminino, é amoroso, é erótico, é, de verdade, um livro.
Estou muito muito agradecida.
Vou colocar no meu blog um post sobre ele.
Beijo.
Oi, Bípede, obrigada por essas palavras tão acolhedoras. A gente publica um livro e entra em crise, pois não sabe como ele chegará às pessoas. Que bom que "Poemas para Antonio" chegou na sua vida. Grata, muito grata pelo retorno, por sua delicadeza. Abraços.
Deus é mais. Tire essas idéias de faca da cabeça. Deixa esses utensilios cortantes lá em Andaraí no tempo de Sr. Aurélio. A caneta sim, essa nasceu para lhe servir. E que você continue fazendo dela sua companheira das horas dificéis. SÓ ELA. Faca não combina com uma mente tão brilhante quanto a sua.Bjos
Mas você escreve. Talvez porque escrever permita toda espécie de voo. Especialmente aqueles para dentro de nós mesmos. E você é Aérea Persona. E quando escreve, encanta. E assim nos movemos todos para o seu território de belezas, rasantes, espirais, em duplos loopings, planadoras. Abr (carlos)
Essa intenção estética é que nos trai. Parece que ela já estava lá antes do desespero.
Um texto impressionante!
Um abraço com esta súbita admiração!
"Não escrevo por nada não". Você escreve por tudo o que você é. Sua preocupação é a matéria do existir num mundo e a faca amolada é, de certa forma, a palavra nos olhos.
Você escreve porque sim: isso faz sentido pra todos nós. Faca, lei da gravidade, não fazem sentido. Embora tenham essa impressionante força literária!
A sua palavra exerce em mim uma ação de faca amolada, de intensidade poética, de beleza cortante, de criatividade impecável e muito mais. Menos a ação de vencer a lei da gravidade.Isto, jamais! (Abigail Bastos)
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