terça-feira, 14 de setembro de 2010

Lívia Natália


Fui ali, na casa de minha amiga (http://osolnasbancasderevista.blogspot.com), encontrei esse poema maravilhoso e cometi um roubo, às escondidas: trouxe-o para cá. Uma das coisas mais maravilhosas e viscerais que tenho lido nos últimos tempos.


ASÉ

Lívia Natália

Sou uma árvore de tronco grosso.
Minha raiz é forte,
nodosa,
originária,
betumosa como a noite.

O sangue,
ejé que corre caudaloso,
lava o mundo e alimenta
o ventre poderoso de meus Orixás.
A cada um deles dou de comer,
um grânulo vivo do que sou
com uma fé escura,
(borrão na escrita do deus de olhos docemente azuis).

Minha fé é negra,
e minha alma enegresce a terra
no ilá
que de minha boca escapa.

Sou uma árvore negra de raiz nodosa.
Sou um rio de profundidade limosa e calma.
Sou a seta e seu alcance antes do grito.
E mais o fogo, o sal das águas, a tempestade
e o ferro das armas.

E ainda luto em horas de sol obtuso
nas encruzilhadas.



Imagem: Oxum. In: www.flickr.com

6 comentários:

Anônimo disse...

A religiosidade tem dessas coisas. Esquenta a mão e a mente de uma tal forma que o poema sai feito alívio.

Bípede Falante disse...

Que força :)

Gerana Damulakis disse...

Também gostei bastante.

M. disse...

Fiquei sem ar. Lindíssimo. Bjs.

Nilson disse...

Poderosa Lívia!

LÍVIA NATÁLIA disse...

Obrigada a todos os blogueiros, é um prazer estar aqui neste espaço tão lindo de minha amiga Ângela!