domingo, 12 de setembro de 2010
pós-escrito
Estava morrendo, na véspera de sete de setembro. Não peguei a faca amolada, nem a caneta prateada; insistente, liguei o computador e deixei a mensagem abaixo, desaforada, para que o mundo registrasse o meu desamparo. Que se dane o mundo, repito nesse domingo; porém, sem mais aquele travo de morte esfaqueada; talvez com um profundo e nobre escárnio. Um escárnio sem graça, como a cara - bem borrada - de palhaço canalha. Palhaço pago para entristecer plateia. Conhece algum? Sou eu agora, só que, para isso, não preciso de ordenado. Faço por puro diletantismo, em nome da dor que paralisa o osso do meu braço e borra a minha cara. Viu como a minha dança é uma farsa? E minhas pernas, travadas? Quase zambetas, menina que cresceu escanchada, sem carecer pisar nas pedras. Cresci fantasmática, com as pernas no ar, mas tendo, fatalmente, as pedras como destino. Hoje piso nelas, meus pés doem, palhaço que pula e dança em circo velho.
Imagem retirada do blog wallperlima.blogspot.com
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10 comentários:
Como fico na espectativa de beber de suas palavras! "Cresci fantasmática, com as pernas no ar, mas tendo, fatalmente, as pedras como destino." Isso já deu pra alimentar a alma, pro resto da semana! Belissímo, como tudo que vc escreve!!!
Ainda não passei na Tom pra pegar "Antonio".
Esse pós não fica nada abaixo do escrito. Fica no mesmo nível, colateral. "Palhaço pago para entristecer platéia." Formidável, para pensar nas relações da escrita com a vida, com o outro, com o momento. O seu ganho deve ser qualquer fenômeno transfigurador que o amor pela palavra signifique.
Obrigado também pela visita. Não, não tenho livro publicado. Faço a verdadeira poesia marginal: à margem até da minha vida de artista. Rs.
É um prazer lê-la.
Abraço.
Êta talento retado de bom! Deu show.
Depois que desligamos, mais dois assuntos me chegaram, precisamos de um novo encontro, com direito a café, chocolate, queijo quente etc, como naquele domingo.
Você é absoluta. Bjs.
Diletante amiga das horas amargas, tentarei ser teus sapatos, aqueles com as pontas engraçadas, quem sabe algum circo nos aceite.
Já estava preocupada com o silêncio. Texto bonito, com um travo perfumoso do caju. Muito retada você!
Que jorro maravilhoso!
Abraço.
Tão bonito seu livro, tão bonito!
A edição está linda, romântica, puro lirismo .
Estou toda orgulhosa de ser sua amiga.
Um beijo,
Lembrou-me do poema Acrobata da Dor, do Cruz e Souza. Tem a mesma intensidade e a mesma pulsão.
bjs.
Fantasmática, com as pernas no ar, essa sua prosa anda cada vez mais afiada, prosa & poesia privilegiadas. A vantagem de ficar um tempo sem ir à blogosfera é ler um monte de coisa de uma vez. Fruição condensada.
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