segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Priquitinha


Que felicidade ou neutralidade deveria ter Priquitinha no seu vai e vem constante, andando apressado pelas ruas, repetindo maria veve, maria veve, maria veve. Havia algo de dramático e de nulidade ou de felicidade naquele homem. Ninguém dava ouvidos, ninguém mais olhava, era doido, diziam, doido apenas. Com uma camisa de volta o mundo azul, Priquitinha saía de casa e voltava, saía de casa e voltava, saía de casa e voltava, maria veve, maria veve, maria veve. Era belo: alto, negro, cabelos lisos, quarenta anos bem distribuídos num rosto encovado, fundo, num corpo magro. Priquitinha, meu vizinho: sua casa em frente à minha; todos os dias eu esperava sua ida e volta constantes, sua vida buliçosa e repetitiva; e eu não sei o que pensava daquilo os meus cinco anos amedrontados; o que ficou em mim, forte, apenas, foi a lembrança terrível de algo que não se fecha, que não se fecha, que se repete com uma inquieta resignação.


Imagem: www.google.com.br

4 comentários:

Anônimo disse...

Gostei demais de falar contigo. Priquitinha tinha problemas que não conseguiríamos resolver. Os nossos conseguimos. Vamos fechar alguns ciclos, que tal?
Bj

aeronauta disse...

Pois é, Chorik, precisamos fechar mesmo alguns ciclos.
Também gostei demais demais de falar com você.

Gerana Damulakis disse...

Uma figura assim fica para sempre na memória.

Anônimo disse...

Inda bem que mudou de imagem. Eu não ia conseguir dormir! rs