quinta-feira, 19 de maio de 2011

felicidade


Sinto felicidade sim, mas ela vem sempre dolorosa, como se a cutucassem com um alfinete. Olho para a felicidade e decoro seu rosto, sua maneira de sorrir, decoro, para ter lucidez completa diante dela. Sei, portanto, que ela existe, não é delírio. Mas ela vem sempre muito delicada, vem sempre pronta a morrer. É mister (e usar essa palavra é estar de acordo com ela, pois que antiga), é mister estar atento à sua luz vez em vez emitida, tal qual vagalume em noite cerrada; não perder, por distração, sua epifania dilacerada em alegria, não perder. Não se distraia, amigo, não se distraia nesses breves insights doados por algum deus distraído. Esteja completamente lúcido, como se você fosse morrer. Detenha o tempo, antes que fuja, e sinta no instante e em memória essa íntima perfeição das coisas.

3 comentários:

Bípede Falante disse...

felicidade dolorosa parece real, porque se não trouxer um pingo de dor é porque é superficial e por demais momentânea.
Adorei o texto, Aero. Fabuloso.
beijos

Nilson disse...

Fabuloso texto, realmente. Você consegue essa epifania dolorida que é tão rara. Gostei especialmente dos insights de um deus distraído.

Sandra disse...

Quando eu era criança, achava que chegaria então e enfim, o grande dia em que seria "para sempre" feliz. Por perceber a não chegada desse momento, encontro aqui a belíssima explicação para os momentos de felicidade que vivi e que viverei: ela é uma "luz, vez em vez emitida, tal qual vagalume em noite cerrada." Parabéns pelo lindo escrito.