segunda-feira, 2 de maio de 2011

Livrai-me


Livrai-me, meu Deus, de ter que encarar uma declaração de imposto de renda! Arranjai-me, meu Deus, sempre um contador livre de última hora! Livrai-me, Senhor, livrai-me de todas as reuniões do mundo, livrai-me!, por todas as velas e incensos e oferendas, livrai-me, meu Deus! Livrai-me, ainda, dos extratos, das filas de banco, das filas de supermercado, dos ônibus abarrotados, livrai-me, meu Deus, do meu sapato quebrar no meio da rua, de gente aborrecida, de gente que não consegue chorar, de gente que está sempre pronta a fazer um parecer, a fazer parte de um conselho, a bater o martelo! Livrai-me Deus, e afirmo que esse pedido não faz parte de mera retórica, é pedido dos mais urgentes, dos mais dolorosos, dos mais verdadeiros!, pois que esse mundo é cheio de papelucho inútil, de requerimentos antilíricos, e é tudo tão difícil, tão difícil, que eu sempre prefiro acordar com uma grande chuva, uma chuva de acabar mundo, e ficar na cama a sonhar os sonhos dos loucos, aqueles que moram nos hospícios, andando leves pelos corredores, a falar a língua dos mortos.

2 comentários:

Lidi disse...

Livrai-nos, Senhor.
Bjs, Aero.

Moniz Fiappo disse...

Peço permissão para fazer desse texto a minha oração. Assino embaixo.