
Vivo fora de casa faz algum tempo. Na verdade não tenho mais casa. Em exílio de interiores persisto firme. Em amplos exteriores vou vagando, vazio. São salões brancos e imensos, e neles pessoas em festa festejam, e bailam sob uma música estridente. A criança que fui deu-me adeus, e eu, velho e entediado, limpo minha maquiagem de circo, suja. Nunca tive aptidão para viver, sempre soube disso, por que continuei? Não foi ideal cristão, nem medo da morte, nem ilusão de uma felicidade fina como rendas no vestido. Meu Deus, sequer fui ateu, acreditei em Ti como absoluta permanência de um sol insistente e iluminado. Meu Deus, e os santos todos empilhados num altar laico e místico. Nunca soube o que fui, o que seria, o que serei. Viajo por exteriores oblíquos, e o mar que tenho seca como vidros cortados. A criança que fui me acena de algum lugar antigo, e balas em baleiro colorido me chamam, com fervor. Não há como ir, não há, e não vou. Onde estou, marchar é uma ordem, e acato.