quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

manifesto espiritual

Não quero escrever requerimentos
muito menos ir a reuniões
nas quais a vida é debatida
sem qualquer mistério.

Quero o esotérico
e nele os contos fantásticos
de Edgar Allan Poe.

Não nasci para viver dia a dia;
me perdoem, mas a máquina de escrever
foi a única que em mim restou,
lírica, do universo burocrático.

Porque não tenho paciência para papéis
que não trazem uma palavra poética
Por isso meu curriculum vitae
há muito tempo não se atualiza.

Quero mesmo é o cataclisma das leis
pois aí poderemos, enfim, amanhecer lendo
o que há de mais inútil em Edgar Allan Poe.

Abaixo as mensagens e a moral das fábulas.
Abaixo as palavras dos documentos oficiais.
Abaixo ainda mais aquelas palavras
com que todos se vestem para fazer reuniões.

Quero, repito à exaustão
o terror, os conflitos espirituais,
os fantasmas de Edgar Allan Poe.

5 comentários:

Lidi disse...

Que maravilha: "amanhecer lendo / o que há de mais inútil em Edgar Allan Poe". Adorei. Abaixo mesmo essa vida burocrática, sem poesia.

Versos perfeitos, Aero. Manuel Bandeira ficaria feliz se pudesse lê-los. Bjs

LÍVIA NATÁLIA disse...

Levo seu poema para a minha reunião se segunda-feira?

LÍVIA NATÁLIA disse...

Vou levar este poema para a próxima reunião e sugerir como inclusão de ponto de pauta!!!

aeronauta disse...

Lidi: Obrigada. Bandeira está o tempo todo rondando a minha vida. Bjos.
Lívia: sabe que é uma boa ideia? Vamos tentar mudar esse mundo burocrático. Talvez possamos conseguir espiritualizar as reuniões e as pessoas que as dirigem; assim ambas se tornariam mais suportáveis. Bjos saudosos.

Anônimo disse...

Que bom chegar aqui e encontrar esse poema tão belo, tão visceral. Beijos