quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Encontros e Desencontros

Bill Murray e Scarlett Johansson corporificam a solidão da incomunicabilidade e a sutileza do encontro num dos mais delicados filmes que assisti. "Lost in translation", no Brasil "Encontros e Desencontros", filme premiado de Sofia Coppola, 2004, nos permite, nos seus 102 minutos, um mergulho nas luzes solitárias de Tóquio, na estranheza de desencontros espirituais e culturais, no tédio imenso de se enfrentar a vida - quase sempre estirada, lenta e sem sentido. O filme traz a lentidão, o tédio e a falta de sentido nos olhares dos personagens principais, encarnados em Bob Harris (Bil Murray) e Charlotte (Scarlett Johanson), e a afinidade existente entre esse dois seres que mal se conhecem; afinidade presente em gestos, atitudes e principalmente no olhar. Esse é o filme do olhar. O olhar que une os seres afins diante do turbilhão de um mundo oco, bestial e comercializado. Filme de amor extremamente sutil, com dois beijos rápidos perto da boca (fora o beijo delicado no final), um carinho de Bob no pé de Charlotte depois de uma conversa fragmentada numa cama de casal, após assistirem àquela cena de Anita Ekbert e Marcelo Mastroianni na Fontana di Trevi em "A doce vida", de Fellini. Tudo aqui - sentimentos na pele - é sugerido, e adivinhado. O que Bob sussurra no ouvido de Charlotte na última cena do filme? Podemos pensar o que nossa alma disser: talvez tudo o que arrebata e que dá um sentido ao que a vida destitui de sentido.

3 comentários:

O Neto do Herculano disse...

Não sabemos exatamente o que Bob diz, embora sua expressão sugira para todos o que sente. Ao se afastar, ele esboça não um sorriso de esperança, mas de inevitável resignação. Da janela do carro ele se despede, também, de uma Tóquio quase alienígena, enquanto surgem as primeiras luzes da metrópole. Paralelamente, escutamos os acordes iniciais de “Just Like Honey”, da banda escocesa Jesus and Mary Chain, que se estenderá pelos créditos e dará ao público a mesma sensação de impotência e impossibilidade do protagonista. “Just Like Honey”, nunca pega de raspão, sempre me acerta em cheio.

Lidi disse...

Lindo demais, simplesmente amo este filme. Já escrevi sobre ele no Deslocamentos. Um filme para ser visto e revisto sempre! Bjs

Anônimo disse...

Se é certo ou não... Para mim ele diz que irá acertar as coisas e voltará por ela.