segunda-feira, 11 de março de 2013
verdades dolorosas
Hoje o que mais se escuta é a frase: "Estou deprimida..." Depressão, palavra banalizada. Na verdade tudo hoje está banalizado, principalmente as doenças psíquicas. Já cansei de ouvir gente dizendo que teve síndrome do pânico e vai contar o que foi quando nitidamente se percebe que foi só um pequeno medo, e não aquele desencadeamento de morte que verdadeiramente é a síndrome do pânico.
A pessoa que sofre dessas duas doenças está quase que completamente só. Como partilhar sua dor e seu sofrimento com quem nunca sentiu isso? Tais doenças são indescritíveis, imagine se serão entendidas por todo mundo. Nunca, nunca; no máximo um atestado médico lhe privará de maiores constrangimentos sociais.
Existe uma frase clichê mais do que repetida entre os portadores dessas duas doenças miseráveis. É aquela, que não faz efeito algum, só para quem diz:
"Não desejo ao meu pior inimigo isso que sinto".
O mínimo que poderia acontecer era seu pior inimigo ficar feliz; pois ele não merece sentir essas duas doenças incognoscíveis, estranhas, terríveis. Mas seu pior inimigo nunca conseguirá entender a dádiva dessas palavras se ele jamais sentir isso na pele. E tomara que realmente ele nunca sinta.
É assim:
De repente você sai. Vai fazer aquilo que faz todos os dias. Aí bate o maior estranhamento do mundo. Você se torna estranho para você, tudo se desloca, a realidade não é mais a mesma, as coisas se alteram, e seu corpo começa a sentir-se mal. Você começa a ter um medo terrível, de você e de tudo. O coração acelera e a barriga dói. Uma melancolia como um abismo lhe soterra; você vai descendo um buraco, um buraco enorme, sem coelho e sem Alice. Você se lembra da literatura, a coisa que mais ama, mas nada se transforma, o buraco vai lhe levando. O buraco vai lhe levando, lhe levando, lhe levando. Você não sabe como e se voltará. Aliás, se a sensação for forte demais, você tem certeza de que não voltará.
O pior é quando você passa por isso em local público, numa apresentação, numa reunião, numa palestra.
Você sai correndo, é a única saída que encontra... Como uma enterrada viva que quer destroçar o caixão em que se descobre encalacrada.
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6 comentários:
Imagens poderosas, Aérea Persona, muito poderosas. E eu fico com o entendimento de que não se pode saber, mesmo, como é sentir tais coisas. Meu abraço,(carlos barbosa)
Obrigada, Carlos, pela solidariedade amiga, sempre. Grande abraço.
Ler o que você descreveu aqui Ângela não é nem próximo de sentir o que foi descrito. Incomodou-me muito, não porque imaginei-me em seu lugar mas porque te imaginei enquanto lia. Desejo-te força sempre e muita coragem para percorrer dignamente os caminhos que a existência te reservou. Forte abraço!
Que mensagem linda a sua, Sandra! Obrigada por tê-la dito, linda demais, encheu minha alma de conforto. Bjos
Ângela, sempre me sinto deslocada, melancólica, estranha, só, e isso é tão frequente quanto perceptível, como ficou claro no e-mail do meu amigo, que publiquei no Deslocamentos. Mas, depois que li o que você escreveu, vi que o seu abismo é muito maior que o meu. O final do seu texto me deixou com uma sensação terrível. Não sei o que eu poderia fazer por você, mas, precisando, estou por aqui. Bjs
Oi, Lidi, obrigada pelas palavras amigas. Apenas reze por mim, amiga, para que tudo isso passe logo. Bjos
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