Ela, linda, aos 17 anos.
Vestiu o vestido que mais gostava, calçou a singeleza das sandálias campesinas,
com as pernas cruzadas. No braço um relógio delicado, e no pescoço uma volta
(corrente) sutil, quase não vista. Ocorria um momento importante: o retratista
passava pelo povoado. E era preciso guardar-se para a posteridade: por isso a
pose, e, a melhor das coisas, o sorriso. Um sorriso lindo, que sequer
adivinhava o que viveria adiante. Nessa época eu nem imaginava vir ao mundo, eu
que de onde estava não queria vir pra cá de jeito nenhum e me trouxeram a
pulso. Mas vir dela me deu mais calma, por isso sempre nos entendemos, temos as
mesmas manias, o mesmo nonsense. Dela herdei a tragédia do medo do mundo: nasci
algum tempo depois que ela viveu uma de suas maiores tragédias: perder uma
filha de sete meses em questão de segundos, sem qualquer resposta à sua
pergunta: "Cadê Noélia Lúcia?" Até hoje eu faço uma pergunta
semelhante, só que é "Cadê eu?"
Hoje estamos distantes uma da outra por quase trezentos quilômetros; ligarei para ela, mas não poderei lhe dar o abraço que aprendi a dar: abraço frouxo, mas amorosamente intenso. O que farei durante todo o dia hoje, já que não poderemos sorrir juntas, é mirar esse seu sorriso lindo, e voltar aos 17 com ela.
Hoje estamos distantes uma da outra por quase trezentos quilômetros; ligarei para ela, mas não poderei lhe dar o abraço que aprendi a dar: abraço frouxo, mas amorosamente intenso. O que farei durante todo o dia hoje, já que não poderemos sorrir juntas, é mirar esse seu sorriso lindo, e voltar aos 17 com ela.
4 comentários:
Esse post já é um abraço bem forte e demorado. Linda homenagem. Você se parece muito com a sua mãe, Aero. Bjs
Mamãe-musa: mas uma "serventia" para esse ser de múltipla função.
Tão bela quanto tu, Ângela. Agora posso mais uma vez constatar de onde vem sua infinita beleza...rs. Grande abraço, querida!
Obrigada a Lidi, Carlos Rafael e Sandra Pereira: seres amáveis que ainda visitam essa casa quase abandonada. Bjos.
Postar um comentário