Bandeira era tísico, todos sabem. E fez de sua admirável doença motivo para poesia. Não, não é nada de auto-ajuda, graças a Deus, é mais coisa para fazer rir. É, Bandeira fez de sua doença e de sua poesia motivos para rir da "contrariedade" que é a vida, na sua rabugice estrábica, antimelódica. Foi assim que, mesmo em " A Cinza das Horas"(1917), seu primeiro livro, marcado por um simbolismo pungente, lemos no poema que fez a Antonio Nobre (outro poeta tísico, português): o seguinte trecho:
"Com que magoado olhar, magoado espanto
Revejo em teu destino o meu destino!
Essa dor de tossir bebendo o ar fino
A esmorecer e desejando tanto..."
Esse trecho nos dá a deliciosa marca de Bandeira: a marca da ironia, ao invés da seriedade, da graça ao invés do pedantismo, do riso ao invés da choradeira tão somente. Diante da cumplidade de tísicos, Bandeira diz a Antonio Nobre a peculiaridade da vida e morte que os une: a "dor de tossir bebendo o ar fino", dor que os faz esmorecer diante do imperativo dos desejos, mas, ao mesmo tempo, dor que proporciona rir do que não tem remédio: a própria vida, em sua fragilidade cômica.
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2 comentários:
Amiga, que aula
uma bandeira hasteada ao vento
Pra rir da vida
Diante de tanto sofrimento
Aeronauta,
As pessoas, às vezes, são agressivas sem motivo. Mas isso não me abala. O mais importante é que tenho conhecido muita gente legal. Pessoas como você.
Beijos,
Renata
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