segunda-feira, 16 de julho de 2007

"... bebendo o ar fino"

Bandeira era tísico, todos sabem. E fez de sua admirável doença motivo para poesia. Não, não é nada de auto-ajuda, graças a Deus, é mais coisa para fazer rir. É, Bandeira fez de sua doença e de sua poesia motivos para rir da "contrariedade" que é a vida, na sua rabugice estrábica, antimelódica. Foi assim que, mesmo em " A Cinza das Horas"(1917), seu primeiro livro, marcado por um simbolismo pungente, lemos no poema que fez a Antonio Nobre (outro poeta tísico, português): o seguinte trecho:

"Com que magoado olhar, magoado espanto
Revejo em teu destino o meu destino!
Essa dor de tossir bebendo o ar fino
A esmorecer e desejando tanto..."

Esse trecho nos dá a deliciosa marca de Bandeira: a marca da ironia, ao invés da seriedade, da graça ao invés do pedantismo, do riso ao invés da choradeira tão somente. Diante da cumplidade de tísicos, Bandeira diz a Antonio Nobre a peculiaridade da vida e morte que os une: a "dor de tossir bebendo o ar fino", dor que os faz esmorecer diante do imperativo dos desejos, mas, ao mesmo tempo, dor que proporciona rir do que não tem remédio: a própria vida, em sua fragilidade cômica.

2 comentários:

Carlos Rafael Dias disse...

Amiga, que aula
uma bandeira hasteada ao vento
Pra rir da vida
Diante de tanto sofrimento

Senhorita B. disse...

Aeronauta,

As pessoas, às vezes, são agressivas sem motivo. Mas isso não me abala. O mais importante é que tenho conhecido muita gente legal. Pessoas como você.
Beijos,
Renata