terça-feira, 17 de julho de 2007

A fotografia que não tiramos

Lembro do dia em que ele completou 39 anos. A casa cheia de gente, um lampião a querosene clareando a sala e aquela imensa geladeira branca, a gás, compondo, com felicidade, a fotografia que não tiramos. Minha memória, mesmo com as imagens em lusco-fusco, registrou tudo. A radiola tocava uma música da época, e até o mudo da cidade dançava. Eu trazia os dedos cheios de anéis e, numa dança, um dos anéis grudou na calça de um rapaz que foi me levando na dança dele... Todos riam muito, até mãe, que nunca gostou de bagunça na casa dela. Todos estavam felizes, fratelli na mesa para as crianças e as moças, e cerveja para os rapazes...

Ah, pai, como eu gostaria de comemorar hoje os seus 70 anos. Nessa comemoração, como aquela dos seus 39, mãe estaria feliz, mesmo com a casa cheia de gente; minha irmã,então,estaria rindo à toa, grudada no seu braço, sem deixar eu chegar perto... E eu, eu estaria dançando pela sala, com os dedos cheios de anéis...

5 comentários:

Carlos Rafael Dias disse...

Os anéis são alianças
Que foram inventados pelos deuses
Para dizer que sempre existe
uma esperança
Mesmo que seja nos dedos

Senhorita B. disse...

Muito lindo!
Seus escritos têm enorme sensibilidade.
Parabéns!
beijos,
Renata

Anônimo disse...

Ah, quando me lembro do Guaraná Fratelli Vita!... Nem penso na vida...

Futeboleiros disse...

Acredite: entendo. Embora o primeiro aniversário dos meus pais comemorado em nossa casa tenha sido o de 50 anos de casados, mãe já bastante debilitada, em cadeira de rodas. Tiramos uma foto dos dois juntos, o olhar dela "muito ocupado em morrer". Acredite: entendo. Muitos abraços, Carlos Barbosa

Vivz disse...

Que lindo esse texto! Chega fiquei triste...