(Puxa, meu dedo bateu numa tecla errada e editei a mensagem sem concluir. Vamos continuar a prosa já começada.)
Pois bem. Fui em busca do aero-amigo: Murilo Mendes. O "aero-amigo" claro, é dele, que assim batizou Mozart, num de seus mais belos poemas. Murilo transcende tudo que vê, por isso acreditou piamente no que sempre viu, e proferiu essa visão como quase sentença: "Quase que só há estrelas". Além de profetizar às "Quatro horas da tarde": "Não vejo ninguém nesta cidade enorme:/Daqui a cinqüenta anos estarão todos no cemitério". Duro, mesmo transcendente. E transcendente ao ponto de sonhar uma mulher densa no "Idéia fortíssima":
"Uma idéia fortíssima entre todas menos uma
Habita meu cérebro noite e dia,
A idéia de uma mulher, mais densa que uma forma.
(...)
Uma idéia que verruma todos os poros do meu corpo
E só não se torna o grande cáustico
Porque é um alívio diante da idéia muito mais forte e violenta de Deus."
Tudo que eu disser agora, após esse último verso é sobra. Por isso me calo. E volto com o Murilo transcendentemente fanático:"(...)Porque eu amo tudo o que vem de ti./Amo-te na tua miséria e na tua glória/ e te amaria mais ainda se sofresses muito mais".
Surpreendente, sempre... De novo, me calo. E termino com duas preciosidades. A primeira: quatro versos do "Poema lírico":
"(...)
Amiga, amiga! Teu rosto é semelhante à lua moça,
Há nas tuas roupas um cheiro bom de mato virgem.
Tua fala saiu da caixinha de música dos meus sete anos,
E te empinas no azul com a graça dos papagaios que eu soltava.(...)"
A segunda preciosidade: duas estrofes do "Murilograma a Cecília Meireles":
"(...)
O século é violento demais para teus dedos
Dúcteis afeiçoados ao toque dos duendes:
O século, ácido demais para uma pastora
De nuvens, aponta o revólver aos mansos"
É, o século, o mundo, a vida - duros demais para quem vive no ar.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Tb sinto a dureza da vida por viver no ar. Obrigada pela visita.
Um abraço.
Postar um comentário