domingo, 9 de setembro de 2007

O encanto das perguntas

XLIII

Quem era aquela que te amou
no sonho, quando dormias?

Onde vão as coisas do sonho?
Vão para o sonho dos outros?

E o pai que vive nos sonhos
volta a morrer quando despertas?

Florescem as plantas do sonho
e maduram seus graves frutos?

Esses dísticos perguntadores e maravilhosos são de Pablo Neruda, do seu imperdível "Livro das perguntas". Gosto do livro todo, mas esse poema me visita desde ontem. Talvez porque fale dos sonhos. Talvez porque pergunte de um pai "que vive nos sonhos" e que "volta a morrer quando despertas"... E é uma pergunta, não uma afirmação: por isso o encanto. A pergunta se insere no reino do que poderia ser, do sonho. Todo sonho é uma grande pergunta, não sei se Freud disse isso, mas deve ter sugerido.
Não quero propor aqui uma interpretação do poema - assim como faço com meus alunos, e sempre acontece, por conseguinte, o encanto: o encanto de encontrar muitas respostas e continuar perguntando... A poesia é assim: tem tantas portas, janelas, varandas... E constantemente uma estrada não-vista a ser revelada.
Não, agora não quero propor nada. Apenas deitar e sonhar: perguntar ao mundo, enquanto durmo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse é um plano de vôo precioso. Abr. Carlos

Vivz disse...

Sabia que vc ensinava! Sabia, sabia, sabia! Eu imagino vc igualzinha a minha prof. de literatura do ginásio. Tudo o que ela falava era mágico e eu queria ser que nem ela, qdo crescesse. Sabia!