quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Ela


A literatura. Por isso não me matei aos 15. Havia um enigma naquilo tudo, nas entrelinhas das letras, entre os livros. Talvez o formato de uma forca, uma guilhotina, onde eu pudesse cometer, de fato, todos os crimes propícios. Matar minha professora de educação física, que ensinou meu corpo a se humilhar nos espetáculos públicos.
Foi ela: a deusa malvada com flores na mão, morando numa estante abandonada... Ensinou-me a justiça, a condolência, o ódio supremo, a mais perturbadora ternura. Se não fosse isso, o que seria dessa vontade imensa de um abraço completo, sem qualquer reserva ou medo? Essa força que vem de meu desamparo mais profundo? Essa vida insistente, crédula, à espera de Deus?



Imagem: "Creo esperar..", por Nomejdigaas.
(www.flickr.com
)

17 comentários:

Anônimo disse...

fico perplexa com a beleza de textos em tais pensamentos

Mônica Menezes disse...

Oh, Mulher Alada, tão lindo, tão doído! Ah, a vida: beleza e dor.

Gerana Damulakis disse...

Mas ela apareceu trazendo a salvação. Muito bem posto.

glaucia lemos disse...

Parabéns, aeronauta. Sua prosa é pura poesia. Acho que muitas pessoas de sensibilidade especial em algum momento da adolescência, por entre os conflitos naturais da fase, pensaram em suicídio. Ainda bem que a literatura também é um abençoado colete salva-vidas.(Salvaguardados os exageros que a ficção nos permite)

Janaina Amado disse...

A literatura salva, mesmo. Que bom que salvou você - seus leitores agradecem muito. :-)

Domingos da paixão disse...

Seu texto mostra, sem dúvida, que a Literatura realmnete salva. Que muitos possam buscar refugio nos dominios literários.

Meu blog esta ativo, quando puder de uma passadinha,
bjs

Marcelo Barreto da Fonseca disse...

Comigo foi inverso. Eu nunca havia pensado em suicídio quando não lia. Hoje, acho que pelo menos uma vez por semana eu me imagino cometendo suicídio, e a literatura, que me deu novas visões e ampliou as antigas, é uma responsável pelas reflexões suicidas que tenho. Em outras palavras: se eu não tivesse percebido a caverna, eu não pensaria em me matar (acho). Mas não reclamo disso.

Edu O. disse...

Sinto que perco preciosidades qdo demoro de vir aqui.

Nilson disse...

Perplexo tb. "Ela", sem dúvida, habita esse blog! E quanto à educação física, em que eu tb fui um desajeitado, acho que a ioga de certa forma nos redime, né não???

Moniz Fiappo disse...

Quem não sentiu isso um dia, lá atrás?
Linda a maneira, as palavras, o seu jeito de descrever a alma.

Andréia M. G. disse...

De fato, a literatura tem um grande poder. E como tem! :-)

lagarta disse...

querida, passo pra registrar minha vinda por aqui. espero tua visita no meu cantinho virtual também. Olha, te escrevi 2 emails e aguardo tuas respostas! beijos.
(renata)

Ulisses disse...

Sim, há beleza na dor, no ímpeto de morte, desde que catalizados por suas mãos líricas. Amiga, tõ com saudade: me ligue, preciso falar contigo! Abrçs, Ulysses

- Luli Facciolla - disse...

Ela... Sempre ela!

Beijos Nautita!

Marta F. disse...

Olhei, e como antes, uma delícia. Meditar tuas coisas, eu aqui ouvindo essa música tão penetrante, que tarde é essa...pra dizer que existo?

Marcus Gusmão disse...

Aero, este é mais um dos seus textos especiais, tão bem construído que releio em voz alta somente para escutar ainda mais a música que surge das palavras.

Flávia Paula disse...

espero nela encontrar essa salvação..