quarta-feira, 5 de maio de 2010

mundos invisíveis


Mãe não me ouve, tão longe voa
Num infinito que não alcanço
Mesmo me tocando como antes.

Pai se transfigura, e vejo-o agora
Nítido e forte, vívido em seu bigode,
Nutrindo mundos invisíveis.

Minha avó, com o mesmo vestido,
Vem naquele velho caminho, findo,
Tão percorrido por seus netos.

Minha tia, tão perto, morrendo,
Insiste ainda, pálida, na sala,
A repetir, incansável, a mesma cena.

Eu e minha irmã, plenas, acordando,
Continuamos sem nada saber, nada,
Enquanto cada dia se desmorona.



(2005)

Imagem: www.flickr.com

8 comentários:

Muadiê Maria disse...

lindo

M. disse...

Você, sempre incrível.

Gerana Damulakis disse...

Outra vez tocando fundo em mim.

Edu O. disse...

parece que escreveu um texto para meu espetáculo odete, traga meus mortos

Anônimo disse...

Você já me fez gastar todos os adjetivos. Se você tivesse uma boa assessoria de comunicação e RP estaria bombando nos criados mudos. Enquanto isso não acontece, aproveito tesouros como esse poema, tão verdadeiro, tão pungente, tão aeronauta.

Flamarion Silva disse...

Poema tão particular, tão íntimo, tão seu. E passeia pela sala, corredor, quarto, cozinha e quintal de minha casa, no quente convívio familiar. Este poema é de todos nós.
Abraço.

Nilson disse...

Enquanto cada dia se desmorona. Memória de afetos.Lindo poema.

Moniz Fiappo disse...

Esse foi fundo nas minhas vivências, e como sempre, lindo!