domingo, 30 de janeiro de 2011

em branco


Não sei dizer o que sinto ao passar por aqui e não me encontrar. Talvez uma sensação breve de morrer. Ou eterna. Quando não mais voltamos, o último post serve como epitáfio; o blog se transforma num cemitério silencioso, gelado, e depois comum, como todos os outros cemitérios. Mas, que coisa triste um blog a repetir para sempre a última cena! Que coisa triste! Ao invés disso, melhor talvez seja tudo ficar em branco, sem lápide, sem nada: cemitério no ar. E para onde irá o corpo que foi escrito em névoa e fogo? Para onde? Não, queridos, não me enterrem, ficarei sufocada lá embaixo, e sentirei nojo do verme se aproximando de minha boca. Não tolerarei, em hipótese nenhuma, ser enterrada, em hipótese nenhuma. Joguem minhas cinzas, isso sim, no ar, para cima, para cima, sempre para cima, nunca no chão, sequer na água. É o ar que quero, a fim de aliviar esse sufocamento que é morrer sem palavras, morrer muda.

3 comentários:

Anônimo disse...

Aero querida, dos textos doídos de estranha beleza. Torturante escrita sobre a morte, o pó. Proponho-te um esforço heroico de brindar tuas qualidades, tua visão positiva da vida. Inventa, reinventa, exagera, fantasia, mas não me fales mais de tristeza, que este teu amigo sofre demais por não saber até onde a poesia se disfarça de realidade.
bjs

M. disse...

Tudo bem? Você viajou de novo, foi? Bjs

Marta F. disse...

Tua língua, como a lamber o corpo do leitor(a), um prazer.