sábado, 8 de janeiro de 2011

o sonho e a morte


O que tenho mesmo é essa preguiça enorme de viver. Ser disposta, acordar com gosto, dar um salto da cama, esticar as pernas e com muita coragem rumar para a cozinha, fazer uma vitamina de banana e, cantarolando, preparar o café?! Qual nada. Tenho uma deliciosa preguiça de viver. O corpo todo remói na cama, quer continuar dormindo até o final dos tempos. Fazer vitamina e café cantarolando? Deus é mais. Quero só dormir infinitamente, e que viesse do céu um batalhão de anjos dispostos e me trouxessem o café na cama. E me trouxessem a vida na cama, de bandeja, sem qualquer esforço de minha parte. E nada de contas para pagar, fila para pegar, respostas para dar, provas para corrigir, telefones para atender. Nada, nada, só um imenso e inquestionável sono. Se isso é morte? O que me importa? Estrangeira em todos os mundos, o sono é onde melhor me encontro. Lá, faço tudo sem mover uma mão, um braço, uma perna. Lá existo, sem dúvida, e sem precisar dar provas disso com disposição física. Só a mente, a alma, trafegando entre nuvens e pedras; pulando precipícios e voando - com asas invisíveis. Para que algo melhor? Deixem-me, portanto, dormir um dia, dois, três, minha vida inteira, nessa cama larga do outro mundo; deixem-me escolher entre o sono e a vida, o sonho e a morte.

6 comentários:

Anônimo disse...

pra poder demostrar o que é a vida, bem que tudo poderia ser puro sonho, imagens sem formas em corpos sem carne sem ossos, a vida prática deveria ser instinta, ir ao trabalho todos os dias quando o sol nasce, correr para pegar o onibus que se afasta lotado, as corespondências as contas absurdas que chegam sem parar, a taxa de alguma coisa que aumenta, de algum utensilio indispensavel para a vida prática transcorrer sobre as calçadas e as escadas que rolam subindo e descendo comprantes. A vida moderna atropela tudo e todos; tão bom é estar morto quando se dorme se sonha, se voá, não precisa andar e se andar não cança e se correr vira cavalo alado e some entre as nuvens vermelhas que enfeitam o céu.E quando o osnho acaba tudo volta o que era antes, predios tampando a visão, onibus e carros veloses, pessoas se apressam e o relogio marca as horas pro dia acabar e a folhinha os dias semanas meses e ano. se morrer é viver como se vive nos sonhos, dando cabalhota e rolando pelo um grande monte de areia que faz no fim o corpo encontrar a água e depois e a vênus e num salto de garça chegar a terra e fugir pro reino ares, no sonho tudo é permitido na morte se fo sonho também.ass.( a noite negra que não passa)

M. disse...

Sempre surpreendente, sempre lírica, sempre alada. Bjs.

Anônimo disse...

Não deixo.

Lidi disse...

Até parece que escreveu para mim. A minha mãe diz que eu pareço velha, sempre cansada. Vive dizendo que preciso comprar vitaminas para tomar, para ver se tenho coragem para a vida. A verdade é que, quase sempre, já acordo com vontade de dormir.

"Estrangeira em todos os mundos, o sono é onde melhor me encontro." Perfeito.

Bjs, Aero.

Marcus Gusmão disse...

Eu deixo. Desde que, de vez em quando e sempre, você acorde e nos conte aqui os seus sonhos.

Moniz Fiappo disse...

Também me identifiquei muito com esse post. Fico dias e dias assim também. Que será? Não conseguiria descrever tão bem como voce, mas é isso que sinto.