segunda-feira, 1 de agosto de 2011

canção rotineira para o dia primeiro


É uma intensa e contínua sensação de estrangeirismo. Levar o corpo para lá e para cá, acordar, lavar a cara, pagar as contas do mês que se extinguiu, mostrar para os meus congêneres que estou viva e apta para exercer as funções de gente no mundo... É difícil isso; como ter que entrar num avião, num navio, numa aeronave, ou saber que vai morrer. Dizem os entendidos em espiritismo que essa sensação incômoda se dá em decorrência de uma saudade incurável do nosso corpo etéreo, sem carne, de nosso espírito livre, voando pelo espaço. Dá-se tudo isso, pois, em decorrência dessa nostalgia absurda de um voo esquecido, pois que nos plantaram no espírito leve essa matéria obesa, pesada, compacta. Resta-nos, portanto, essa vontade imensa, como cantou Cecília, de morar no último andar, e de lá olhar, em perspectiva tridimensional, a labuta de corpos se arrastando, tristes, continuamente, pelas filas dos bancos e ruas do mundo. Resta-nos o sonho de poder alcançar o ar, em toque íntimo, num encontro impossível.

6 comentários:

Lidi disse...

Ow, Aero, eu também sinto esse cansaço de ter que acordar todos os dias e provar que estou viva. Acredito que seja mesmo saudade de um corpo livre, voando pelo espaço. E fico imaginando que essa nostalgia de um voo esquecido deve ser bem grande em você que, apesar de ter os pés no chão, é uma mulher alada. Bjs

MeandYou disse...

Um texto com poesia, que maravilha!
grande abraço carioca

Anikulapo disse...

É tão dificil falar desse constragimento que se dar todos os dias que acordamos, todo essa relutacia em fincar os pés em mais um dia de pura realidade, embora alguns pensem que vivo alucinado, emquanto ele vive na dura realidade. Você consegue descrever esse mal-estar esse parafrase solta sem rumo, inconita de toda a vida, em belas frases de um texto poético.

Gracias por tus palabras hermosas y encantadoras Angela querida

Sandra disse...

Parabéns mais uma vez Angela. Você felizmente, consegue se superar a cada dia que passa. Que bom encontrar suas palavras nesse mundo "doido" em que estamos de passagem. Ah...você visitou o blog?! Me diz o que achou...se puder, é claro. Um abraço!!!

aeronauta disse...

Oi, Sandra, entrei lá no blog rapidamente, mas voltarei sem pressa e depois lhe digo, tá? Um abraço, e obrigada por suas palavras generosas.

ideia não tem a(ss)ento disse...

Sinto eu também saudade do meu corpo etéreo, como sinto um dificultoso peso dos dias terrenos. Me doem os ombros e a minha alma fica dormente, em calafrios.