quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Série "vazios"


Acredito que muitos procuram um psicanalista, ou psicólogo, com o desejo inconsciente de ter um amigo perfeito. Aquele amigo que vai lhe escutar sem emitir julgamento. Que vai se eximir de opinar sobre o que você fez (pois o que você fez está sempre em eterna falta), dizendo-lhe a seguir o que deve ser feito, apontando seus mais míseros pontos fracos. Pois é isso que os amigos, na maioria das vezes, fazem. Eles não sabem quando é melhor ficar em silêncio. Eles quase sempre têm a miserável autoridade do amigo: diz o que "é melhor para você", "para o seu bem", justamente "por que é seu amigo". Enquanto o que você só quer mesmo é colo e silêncio. Compreensão sem palavras. Você não quer um manual, quer um amigo. Essa palavra está, como todas as outras, desgastada. O que é, meu Deus, um amigo? Não sei. Aos seis anos tinha uma amiga, de minha idade; íamos à escola juntas, andávamos juntas, mas a solidão nos permeava, como chicote, pois ela tinha a autoridade de amiga, e essa se exercia através do abandono, sempre assíduo e perverso. Hoje, depois de muito buscar o que se denomina, de maneira complexa,"amizade", vejo-me mais uma vez, de novo, infelizmente, em busca do psicanalista, o homem sem julgamentos, o "amigo" que silencia.


Imagem: "Série Vazios", de Adriana Rocha. In: www.google.com.br

Um comentário:

Bípede Falante disse...

Tenho psicanalista e tenho amigos. Gosto de todos, mas não são a mesma coisa. Ainda que o psi seja também uma grande pessoa.
Vou pensar sobre esse post com mais cuidado. Nunca tinha visto sob esse ângulo.
beijos :)