terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

a câmara clara e a sétima arte: elucubrações sobre o real


Estamos acostumados com uma existência previsível, cotidiana e cansativa. Nela nos arrastamos, comendo e dormindo, sem percebermos sua transitoriedade e seus signos, visíveis em cortes quase que cinematográficos. Para cada lugar que olhamos é certo que ali se recorta o enigmático, a pulsação de tudo que é inesperado e secreto. O mundo é amplo, nosso ângulo de visão fragmentado; portanto, nosso espírito age como diretor, recortando as cenas principais.
Todo esse preâmbulo para dizer que no domingo que antecedeu ao último, no início da tarde, passei por um final de rua em Feira de Santana. Naquele exato instante, havia milhares de jovens conversando. Meu olhar recortou apenas o rosto de um, e o recortou em primeiro plano, com bastante nitidez. Ele sorria, e usava boné.
Quatro dias depois soube que esse mesmo rapaz havia sido morto por dois homens que pilotavam uma motocicleta.