quarta-feira, 31 de outubro de 2012

as mães e nossa memória


Toda mãe se reconhece como mãe porque repete mil vezes a mesma coisa. A minha sempre repetiu, azucrinou, encheu o saco falando a mesmíssima coisa: a gente na frente e ela atrás falando e repetindo. Por isso nossa memória guarda tudo. Elas, as mães, eternizam nossa memória. Mas de todas as repetições de mãe, não gravei as azucrinantes, gravei as mais adoráveis: como aquelas em que ela se reportava a meu avô. "Porque papai tocava sanfona", "Porque papai nunca me bateu", "Porque papai queria que eu estudasse em Ponte Nova", "Porque papai era muito alegre". Porém, de minha avó, sua mãe (ah, Freud...), não eram repetições muito agradáveis: "Porque mamãe me fez criar todos os dez filhos que ela teve", "Porque mamãe não deixou eu brincar quando era menina...", "Porque mamãe não quis que eu fosse estudar em Ponte Nova, disse que eu iria era aprender a escrever carta pra namorado"... Terríveis essas lembranças, dela e minhas. Prefiro relembrar "Porque papai me levava para as festas", "Porque papai me levou com ele para a Lapa: é essa foto aqui, veja". Ouvi estas palavras e vi esta foto milhões de vezes. Continuo ouvindo e vendo.
                       Eu me esqueci de uma outra repetição adorável: "Porque era papai quem cortava meu cabelo"

5 comentários:

M. disse...

Você e sua mãe: pura poesia. Amo. Bjs

Anônimo disse...

Oh, Fifi... Não fala assim dela não!
Vocês duas têm sido adoráveis.
Muito interessantes seus textos sobre Dona Té.

Abraços,
Anônimo I

maray disse...

certa vez, no meio de uma sessão de psicoterapia, o psicólogo perguntou: "mas o que tem dentro de vc de sua mãe?"
Isso tem muito tempo e até hoje eu tento responder a essa pergunta.

Freud explica muita coisa, mas mãe é bicho complicado até pra ele.

Tania regina Contreiras disse...

Ah, nossas mães! :-)
Memórias, lembranças, as mães são eternas.
Beijos,

Menina da Ilha disse...

E como a vida se repete... Hoje, assim como mãe, tenho inúmeras lembranças maravilhosas com pai. E com ela? Ainda estamos nos conhecendo e tantando nos aceitar com nossos grandes e eternos amores por nossos pais que se foram.