sexta-feira, 30 de novembro de 2012
memórias
Pai era o homem que tinha mais afilhados no município. Sua casa, portanto, estava aberta para os inúmeros afilhados e compadres, coisa que eu e minha irmã, na fidalguia da adolescência, não tolerávamos. Mas coisa que tolerávamos menos, e que hoje acho de uma preciosidade de imagens e riqueza, era aquilo que pai fazia em dia de casamento do pessoal da roça, na cidade: oferecia a casa para as arrumações, para os fotógrafos e para as comilanças. Nós, menininhas metidas, nos envergonhávamos daquilo que só hoje vejo que era genuinamente poético e humano: os noivos iam se casar no fórum, mas se vestiam como se fossem casar na igreja. A noiva se embonecava lá em casa com véu, grinalda e buquê e ia com sua comitiva, andando, para o fórum. Depois, na volta, de novo andando pela cidade, com os apetrechos noivísticos, voltavam lá pra casa para os comes e os retratos. Num desses retratos, consta o pai de uma noiva lascando uma coxa de frango nos dentes, tendo como pano de fundo a velha geladeira branca da sala de jantar.
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5 comentários:
Só faltou a tal foto
está em monóculo, Carlos Rafael...
Dá pra revelar em papel, Nauta. Faça isso e posta, please!
Boa ideia! Quando for a Andaraí, vou trazer esse monóculo e revelá-lo em papel!
25 de dezembro, pelas ruas da cidade surgem os Ternos de Reis, acolhidos por poucos e comentados por muitos: eles cospem no chão, eles fazem isso, eles fazem aquilo...
Não imaginam as pessoas quão grandes é o valor cultural destes foliões.
Vamos aprender depois o grande significado das coisas da roça.
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