segunda-feira, 12 de maio de 2014
sobre minha casa
Em muitos países não existe essa de ter empregada doméstica. Estou refletindo muito sobre tais coisas nos últimos dias. Minha casa é pequena, e quero tê-la só para mim. E a moça que há dois meses vem todos os dias fazer comida, arrumar a casa, lavar roupas,esses quefazeres que uma casa exige, não fala comigo. Vejo-a sempre de costas na pia. Se falo com ela, ela responde de costas mesmo, grungunando. Como ainda não sei gerenciar uma casa, deixo por sua conta e risco o cardápio. E eu nem preciso adivinhar o que me espera na mesa: frango, um feijão mumificado, um macarrão já morto desde domingo, e que ela reaproveita, e uma salada sem qualquer estética. Perguntei a ela porque o frango não foi utilizado para omelete, e ela responde secamente, de costas, que eu disse que não gosto de gorduras. Replico dizendo que ela própria um dia fez um sem gordura. Digo, "você também poderia fazer uma panqueca". Aff, ela de costas repete: "panqueca". Por que, misericórdia divina, todo dia treino para despedi-la e na hora agá falta coragem? Todo dia digo pra mim mesma: de amanhã não passa. O que não passa é minha morredeira, já que a cama virou meu esconderijo; sim, me escondendo DELA; para não ter que vê-la.
Agora, nesse momento em que escrevo isso, vejo-a de costas sobre a pia. Tudo na criatura me enerva, me dá impaciência e infelicidade.
Penso: posso muito bem voltar a ter minha casa só para mim. Posso até aprender a cozinhar. Posso até aprender a gostar, quem sabe, e lançar um livro de receitas?
Uma coisa é certa: quero minha casa só para mim. Minha pia só para mim. Nunca, nunca ficarei de costas na pia. Eis o trauma. Lavarei um prato e olharei para a porta, em busca de alguém, alguém. Existe sempre alguém atrás da pia. É isso que treino dizer para essa moça no dia em que tiver coragem de despedi-la. E não vai demorar. Amém.
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3 comentários:
Oh dó! Vou torcer que você encontre uma boa secretária.Eu aqui tenho a casa durante o dia só minha e nem comida faço, sou gorda de ruindade. kkkkkk. E ai, já está dando aulas? Bjos!
Oi, Lói, daqui a pouco vou ligar para a dita e dar-lhe inté. Chega! rs. As aulas ainda nãocomeçaram, e para que não vão começar por tão cedo. Bjos
Isso me lembra Kafka e os seus personagens que sempre tem uma esquisitice, que parece boba de principio, mas que no fim revela uma sinistra verdade.
Ainda mais a relação de lavara pratos que há sujeira, sujeira leva a baratas, e o imagino aquelas pernas de baratas se mexendo e a pessoa lavando os pratos sujos resmungando sem olhar para trás.
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