sexta-feira, 15 de outubro de 2010

duas grandes solidões


Duas grandes solidões se encontram, sempre, à distância de um palmo, nada mais do que isso. Tocam-se as mãos e só. Duas grandes solidões se compreendem, mas não se abraçam. Ibsen disse que o homem mais forte é o homem só. Somos fortes, portanto: um homem e uma mulher demasiadamente fortes, pois que choram sozinhos. Poucos aceitam esse destino: alguns dão dois mil réis por uma prosa qualquer. Não é fácil aceitar esse destino e já perdi as contas de minhas conjurações. E que não dão em nada: volto sempre murcha para casa. E, nesse sentido, minha casa não é sua casa, pois que duas grandes solidões, repito, não se abraçam. Olham-se, apenas, estupefactas. Assim como olho pra você, e vejo-a em seu corpo. Você é o grande dono, maior latifundiário que já conheci da Solidão. Muita terra à vista, arenosa, palpitante, terra boa, de boa guarida, mas completamente inalcançável. Conheço-a, já senti nos pés a quentura dessa terra, já comi das iguarias que ela doa, mas só isso. Ela nunca será minha nem de ninguém, não há doação possível de tal propriedade. Nela apenas se repousa sobre a árvore, assim como faço com você, à distância de um palmo.


Imagem: Noite. www.google.com.br

4 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Grande texto. Bela passagem para aquele livro que imagino ter um dia entre as mãos.

Nilson disse...

Belo texto, sim. A solidão é incontornável e você diz isso de um jeito magistral!

Anônimo disse...

Solidão não tem tamanho. É um buraco negro, antimatéria.

Lidi disse...

Aero, assim como a Gerana, também imagino ter aquele livro um dia entre as mãos. Textos maravilhosos é o que não falta. Bjs