
Tudo nele é natureza que corta, espinho nos pés, pés no chão, roupa rota. Dentes que não vêem escova, cabelos desgrenhados, corpo à mostra.
Tudo nesse homem é vida que não estanca, alucinação por estar vivo, silêncio que se furta. Dentes rangendo na noite, com a força dos loucos.
Como Riachão, enche os dedos de anéis. Pendura brincos nas orelhas como um pirata. Já teve dias de ficar nu/ como só um índio ficaria. Xamã maldito, salva meus dias.
E como é preguiçoso! Deita-se e não dorme. Muito menos sonha, apenas encarna Quixote, lívido e magro, sozinho, rindo a sabedoria torta, a sabedoria dos anjos que não se importam/ com nada.
Descalço, sempre sujo, atira-se em meu lençol de linho.
Devasso e vil, invade a minha raiva esquecida.
Por isso lhe mordo o braço, lhe faço feridas
que jamais alcançarão sua pele mais funda.
Sua pele negra, iluminada,
que nunca sangra às minhas mordidas.