domingo, 24 de julho de 2011

"clube dos 27"


Incrível como a década de sessenta continua a influenciar os jovens de todos os tempos. Tive vinte e vinte e sete, respectivamente, entre o final da década de 80 e final da década de 90 e fui influenciada por eles. Hoje conheço muitos jovens de vinte e poucos anos fortemente influenciados. Parecem íntimos de Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison. A complexidade dessa influência não é só a admiração pela música, pelo talento de todos esses seres diferenciados, mas por suas vidas. Eles querem também morrer aos 27 anos. Eles querem o mundo das drogas químicas, eles querem a overdose. Meu Deus, a arte e os artistas são emissários de uma seita que pode salvar e matar. Isso é assustador, e tremi quando abri a internet hoje e me deparei com a morte de mais uma de 27. Já tive 27, passei pela crise hamletiana, passei pela crise pinkfloydiana, passei pela crise da pedra drummondiana, e estou aqui. Confesso que em muitos momentos me pergunto se foi bom ter sobrevivido. Mas a vida, o sol, a sensação de plenitude que a arte traz, tudo isso dá gozo, felicidade, ainda que instável, duvidosa, complexa, dúbia, coleção de adjetivos ambivalentes que, na pior das hipóteses, nos instiga a continuarmos a viver a fim de sabermos a que será que se destina tudo isso. Talvez nunca tenhamos uma resposta, e o instigante mesmo é continuarmos a procurar; pois que dessa procura é que existe a arte, e ela é uma das únicas possibilidades de vencer a vida e a morte.


Imagem: Janis Joplin no Festival de Woodstock.

6 comentários:

Adriano Alves disse...

"Não tenho medo da vida, mas tenho medo de viver
(...)
É que a vida atou-se a mim desde o dia em que eu nasci
Viver tornou-se, outrossim, o modo de desatar
(...)
Viver é saber subir, alcançar a nota lá
Lá no fundo de ferir, se preciso, até sangrar..." (Gilberto Passos Gil Moreira)
Pois é, Ângela, quem dera todos (artistas ou não) soubessem desatar o nó e bem saborear a dor da vida, do viver, como bem insinua esse adorável baiano da chapada diamantina. Um abraço.

Moniz Fiappo disse...

Isso que voce escreveu, se chama viver.

Marcantonio disse...

Deus, como se criam ilusões a respeito da relação entre vida e arte! Também, lidar na área do simbólico dá nisso, e muitos preferem o criador à criatura, tal como na religião, aliás, capaz de criar a idéia de um cordeiro que a todos redime. Daí para o artista que redime é um passo. Religiosos também os que pensam em clubes dos 27, sem se darem conta de que sujeitos diferentes produzem obras semelhantes. Mas esse tipo de culto mítico não mudará.
Desconfio que há também um clube dos 27 entre engenheiros, médicos, metalúrgicos, garis, funcionários públicos... Mas quem se dará conta disso? Quem ligará pra tal estatística? Aí eu penso num Van Gogh e num Schielle do clube dos 37, e em seguida penso em Cézanne ou Picasso do clube da idade provecta, e também penso num Keith Richards de 68, num David Bowie, num Roger Waters, e pronto! Acabou, e decido pensar em outra coisa.

Abraço.

Bernardo Guimarães disse...

todos eles deviam, aos 26, volver a los 17! e de novo, de novo, de novo...

MeandYou disse...

Oi, Aeronauta!
Uma pena tudo isso! Tantos talentos desperdiçados e eu que já passei por tantos períodos, cada vez valorizo mais a vida, o prazer e a alegria de estar viva e vendo tanta coisa linda.
Gostaria de lhe convidar para um projeto novo que lancei na blogosfera e que, espero, muitos bons escritores e poetas apareçam por lá.
Não deixe de ver abaixo>

http://wwwmeandyou-meandyou.blogspot.com/

um abraço carioca

Anikulapo disse...

Entendo que cada um constrói o inesperado das suas vidas, e essas ditas que morreram as 27 simplesmente morreram aos 27 como centenas de outros, mas sabemos que os mitos são criados, alguns nasceu para serei lembrados, e como sabemos que nós seres humanos desfocados buscamos as formas do outro, do algo além do intocável, esquecem de serem os "mitos" do seu tempo, os "heróis"da sua história, e morra se assim quiser com 7 27 87 não importa, o importante é qual a forma que a vida vai ter a forma que se vai da. Gosto de toda aquela geração de sexo drogas e rock in rool, amor ao ar livre pessoas vivendo no limite em altas doses de adrenalina, isso é só para loucos caretas não, isso só para raros. ou seja entrada ao preço da razão.