domingo, 17 de julho de 2011
sobre as correntes
Sou tenazmente supersticiosa, mas sempre quebrei corrente. Tenho uma profunda compaixão pelas pessoas que mandam correntes, e digo que fico tentada a fazê-las continuar, mas a preguiça é muita. Na época da máquina de datilografia recebia milhares delas, em casa, datilografadas e com o cheiro e a cor rosa do saudoso mimeógrafo. Era só abrir a janela e lá estava um papel misterioso, à espera de minha alma diligente. Ao abrir o papel, ler e constatar a ameaça no final, os danos que em minha vida ocorreriam caso quebrasse aquela corrente milagrosa, eu dizia a mim mesma que iria fazer mais nove ou vinte cópias daquelas e jogá-las de janela em janela. Mas que nada: a preguiça sempre foi maior que o medo. Agora, no tempo do computador, continuo recebendo correntes, só que por email. Fico com tanta dó de quem manda! Dó por que ali se registra a promessa de, se for reenviado aquele texto para mais quinze pessoas, em cinco minutos o pedido ser realizado. Oh, como temos pedidos, como temos dores, esperanças, anseios! Um dia eu fiquei tentada, e reenviei. Depois coloquei o relógio perto de mim e comecei a contabilizar os minutos. Após três minutos, nada aconteceu. Após três anos, também não. Talvez até após três séculos nada acontecerá. Tudo é tão triste, tão triste.
Tenha, Grandioso e Onipotente Deus de Misericórdia, piedade de todos nós que pedimos...
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2 comentários:
Também me lembro das correntes datilografadas, mimeografadas, e do quanto elas me impressionavam na minha infância... a ponto de me transformar numa espécie de refém desse tipo de coisa até hoje, mesmo as de e-mail eu repasso, sempre. Só não repasso quando consigo saber que é corrente, pelo assunto, e nem abro o e-mail. Pior é que só acredito (acredito?) nas maldições. Nem dou bola pras promessas de recompensas.
Lembro de um papel de pão, do tamanho de uma criança que nasceu falando, guardado por meu pai para alcançar a sorte.
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