quarta-feira, 17 de agosto de 2011

assanharol


Sempre prefiro lembrar o que fui: menina da roça, com medo de homem fardado. Esse medo continua, essa menina é insistente. Fico tremendo de medo ao ver um soldado com aquele revolvão na cintura. A menina que continuo sendo é fidelíssima. Nunca usará um rímel, que Deus lhe guarde. Nunca usará um blush, que Deus lhe proteja. Nunca usará salto alto de bico fino, que Deus é misericordioso. Jamais fará a tal chapinha, jamais quer ter cabelo liso, jamais quer viver em salão de beleza. A menina que continuo sendo é preguiçosa dessas coisas, e prefere o assanharol no cabelo, dá menos trabalho, é mais leve, é melhor. Essa menina não se esquece do dia em que foi compor, como professora convidada, uma banca de defesa de mestrado. Ela chegou cedo, e ficou por ali esperando a porta abrir. Só que ela teve sede, e foi pedir à servente um copo d'água. A servente lhe tratou mal, e disse que só tinha água de torneira. Depois, mais tarde, a servente foi se desculpar, pois pensou tratar-se de uma estudante. Nesse dia a menina regozijou-se pela descoberta incomum de não pertencer àquela tribo. Livre, solta no milharal, selvagem como sempre foi.


Imagem: litoral do Piauí.

5 comentários:

Lidi disse...

Aero, lembro dessa história do copo d'água, você me contou. É por essa tua simplicidade que te admiro ainda mais. Quanto ao teu cabelo, é lindo, já te disse isso. E vou aos salões de beleza, mas também não gosto. Bjs

Sandra disse...

É fiel a sua liberdade de alma perpetuar na livre expressão de seu corpo. Belíssimo Ângela. Abraço.

martha disse...

Bela ângela.

Anônimo disse...

Infelizmente tenho esse cacoete (rs). Quase tudo me remete a uma música.
Com esse texto não vai ser diferente:
"Desde os tempos de criança você usava trança e eu gostava tanto, tanto de você"...

Abraços,
Anônimo I

aeronauta disse...

Que lindo, Anônimo I!!