quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Penélope às avessas
Mas será que na intimidade tiramos verdadeiramente a roupa? Os namorados e os psicanalistas nunca terão a resposta fidedigna. Eles são capazes de garantir terem visto nossa nudez, mas o que viram foi o nosso grande manto; o manto transparente. Usamos essa indumentária para os íntimos; e, para os estranhos, usamos a roupa mais impermeável. Esse manto transparente é feito de tecido iluminado, por isso tanto engana. Ele tem bordados delicados nas pontas, ele parece sagrado. Nosso corpo se delineia perfeito dentro dele; e nosso espírito, ali bem acalentado, se desenrola etéreo e farto. Os namorados e os psicanalistas dão garantia do que vêem: a possível nudez. Mas só nós sabemos das perspicácias desse manto, só nós. Pois que o costuramos, bordando-o noite a noite na escuridão dos abismos, feito Penélope às avessas, à espera inconciliável de nós mesmas.
Imagem: "Mulher em azul transparente". In: www.google.com.br
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7 comentários:
Só mesmo uma MULHER como você Ângela, para escrever algo tão verdadeiro e ainda belo. Abraço.
Grande reflexão, grande verdade. A nudez é um disfarce.
Acho que nem sequer ficamos inteiramente nuas diante de nós mesmas. Bjs
Esse manto as vezes fica tão espesso que não conseguimos mais nos ver com clareza. Adorei o teu texto. Abs.
E quando penso que li o melhor que escrevestes. Paro e descubro que tens um jeito de ver as coisas que surpreenderá sempre. Muito lindo.
Realmente somos performance todo o tempo, acho que só não conseguimos ser para nós mesmos!
gostei!!
A roupa nova do rei a nudez enganadora: nada é o que parece! Bela reflexão!
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