terça-feira, 30 de agosto de 2011

um quilo de açúcar


Casimiro de Abreu é a cara de pai. Este fazia um tom melódico, quase cantando em falsete, para declamar com muita solenidade: Oh que saudades que tenho/ da aurora da minha vida/ da minha infância querida/ que os anos não trazem mais. Repetia esse trecho sempre, sempre, como se fosse a primeira vez. E ria no finalzinho com uma emoção inteira. Na encenação desse rotineiro poema era de sua alma que ele dizia, era de sua infância, do menino que ele foi com o seu sonho megalomaníaco de comer um quilo de açúcar. Menino obstinado que trabalhou duro na roça plantando mamona, vendendo, e indo, finalmente, à venda próxima, comprar o seu quilão de açúcar. Menino obstinado em busca do mistério da realização: foi correndo pro fundo do quintal, no mais escondido da sombra de uma árvore, e lá se pôs à feliz e triste tarefa de finalmente comer o sonho. No terceiro punhado, com a mão cheia do que é mais doce no mundo, começou a ver tudo rodar; a seguir o vômito saiu forte - talvez como alerta para tantas outras ambições futuras, muito mais doces e perigosas. Ora, comer um quilo de açúcar, engolir a doçura ao quilo é ambição por demais temerária, terna, embriagada, enjoativa.

3 comentários:

Anikulapo disse...

Bonitas linhas amiguíssima Aero. Penso que todos tem esse desejo enorme de se lambuzar de mel ou comer um quilo de açúcar; eu em história que ouço contar de Lampião, soube que fez um jagunço seu comer um kg de sal por reclamar que a comida oferecida de bom grado por uma senhora estava faltando alguma coisa. Coisas desse tipo acontece. você mata a fome do sujeito no entanto só isso não lhe basta. em uma música de Di Melo ele diz: a ele que queria morrer doce quando mundo acabasse em mel, no caso do seu Pai em
açúcar. E voltando para esses desejos que vem e não são realizados por puro medo de permite-se, grande ser interessante é o seu Pai de bons frutos; juntamente é claro com sua Mãe, pessoa muito querida e simpática. Nessa altura poucos entendem o dialogo, dizendo que eu também tenho o desejo de ter "um quilo" ou até mais, no caso, digo que não seria de açúcar, e talvez em vez de vomitar depois de um kg de chá em uma só tragada me levaria para uma viajem fantástica tipica de Murilo Rubião. Abraços

Anônimo disse...

Ah! Como entendo essa gana de se entupir do sonho, como entendo!

Bernardo Guimarães disse...

entendam agora porque não posso sentir nem o cheiro de paçoca!!!