sexta-feira, 2 de setembro de 2011
de novo, Clarice
Desdigo o que um dia disse aqui, e afirmo: o conto Amor não está esgotado. (É, de novo, Clarice.) Acho que quem estava esgotada era eu, de tanto ouvir falar nesse conto, de as pessoas ficarem falando dele pra cima e pra baixo, e com uma superficialidade doentia. Também estava de saco cheio de usarem tanto a palavra de Clarice em vão; acho que a própria, do seu túmulo, vivia bastante insatisfeita. Sem falar na legião de imitadores baratos, neles, claro, eu incluída.
Pois bem. O conto Amor é um dos mais belos contos escritos em língua portuguesa. De uma sensível genialidade; de uma delicadeza de quem sabe fazer renda naqueles bilros antigos, jogando os bilros para lá e para cá, num movimento sutil de mestre, e sempre cantarolando uma cantiga. Enfim, só quem sabe as delicadezas de um bordado, de uma renda, sabe o que é esse conto clariceano.
Não é tão somente a história de uma dona de casa, é mais do que é isso. É a história da apelação da existência: a existência a todo momento nos chama, clama para que nós a escutemos. A existência está lá fora: no cego mascando chicletes e sua intensa existência de coisa viva, saída do lugar comum a que nos prega a vida prática - essa que nos impede de enxergar tudo. O contingente, disse Sartre, é o absoluto. Tudo o que existe é pleno de gratuidade, portanto de plenitude: eis o perigo. Precisamos, isso sim, é acordar. Sentir o frenesi do vento batendo no rosto. E, diferentemente de Ana no conto em questão, não retornarmos à ordem, não apagarmos "a flama do dia", a inquietante e prazerosa (e perigosa) descoberta de estarmos vivos.
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6 comentários:
Prefiro apenas dizer que gostei para não alongar muito o comentário.Concordo com tudo que afirmou, até me classificaria como uma imitadora de Lispector.Rs. Mas, sei que com tempo imprimimos nosso estilo e que comentários retirados de módulos de literatura, JAMAIS podem derrubar a paixão, identificação quando se gosta de um texto como o dela, de cada escolha de palavra, de cada tudo meio endeusado por uma fã.Então comento sempre Clarice também!rs.
Aeronauta, que prazer ler teus textos. Abs.
Esse é um dos meus preferidos de Clarice.
Querida amiga, ontem pensamos em surpreendê-la, chegando de surpresa no Café Filosófico. Mas, infelizmente, não deu. Bjs.
Naiana: Clarice tem essa sedução sem fim, entendo bem sua paixão por ela.
Terráqueo: que bom ter você por aqui de novo!
M.: Como eu ficaria feliz vendo vocês aportando por aqui no Café Filosófico! Foi tudo tão bonito e eu queria ter compartilhado isso com vocês.
Parabéns Ângela. Deu vontade de ir também...rs.
Clarice, eu fiquei apaixonada por ela aos 12 anos, vi um entrevista que relembrava o ano de sua morte. Encantei-me! Depois li um poema eu acho, trata da felicidade, ali, na flor da idade, descobrir outros conceitos de ser feliz.
Você sabe dizer o não dito, eu gosto disso, se isso é ser cópia no sentido Platão de ser cópia, seja! A intensidade é sua e dela, cada uma com sua porção e proporção.
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